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“NA REALIDADE TODA MULHER QUER SAIR DO CASULO” revela Lylian Vargas

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Curitiba, 1 de maio de 1988

Empresária elegante, dedica-se com afinco ao Sir Laboratório, Som e Imagem, onde desempenha o cargo de Diretora Financeira. Definida em suas aspirações, defende a realização profissional feminina. Lylian é a Sra. Tulio Vargas.

IZZA — Pela sua elegância e personalidade e principalmente pela sua atividade, você é uma pessoa muito admirada. Ao que atribui isso?

LYLIAN – Na realidade, toda mulher quer sair do casulo. Realização pessoal feminina nos dias de hoje, está muito mais ligada à atividade profissional do que todos os itens que compunham a formação de uma jovem ou de uma senhora há vinte anos atrás. Dois segmentos femininos estão na linha de frente: a mulher simples, humilde, que batalha durante o dia no comércio, na indústria, nas residências particulares como doméstica, e quando chega em casa assume a sua luta que é lavar, passar, cozinhar para os filhos e o marido. Essa experiência eu vivo aqui na empresa vendo a luta de algumas funcionárias pela sobrevivência, e mais, nos finais de semana e feriados, que poderiam ter um descanso merecido, têm uma atividade alternativa para fazer frente ás necessidades não supridas com o salário.

Muitas delas são empresárias natas, têm seu comerciozinho de venda de panos de prato, aventais, até de doces caseiros e haja fabricar dinheiro. Servem de exemplo para milhares de mulheres nesse Brasil, que se queixam de inatividade porque não sabem o que fazer para ganhar algum dinheiro. O outro segmento é da jovem que, desde a adolescência está se preparando para enfrentar o futuro. Com vontade, se joga em cursinhos, mesmo sabendo das dificuldades financeiras que vai enfrentar pra manter uma faculdade. Trabalha e estuda, dando uma lição de garra e vontade de vencer para muita gente acomodada.

Numa evolução rápida, a mulher que era jovem ou adolescente na década de 50, pior período, sem dúvida, pois as mulheres estavam percebendo que tinha potencial, se não igual talvez até maior que muitos homens em várias atividades, eram discriminadas, tendo que se voltar muitas vezes para trabalhos mais amenos, pois não ficava bem prestar serviços em setores que eram estritamente masculinos.

Fugindo um pouco da pergunta inicial, Izza, uma coisa que me questiono nesta discriminação (que atualmente está muito atenuada), é a função em que se enquadram as primeiras damas do país, estados e municípios, que é puramente de fundo social. Claro que a mulher é mais sensível para problemas afeitos a essa categoria, mas sem dúvida, tem muita primeira dama neste país que tem competência para, além de assumir sua atividade dentro do quadro social, de poder atuar em várias outras áreas. Como exemplo, lembro de dona Rute Passarinho, já falecida, esposa do senador Jarbas Passarinho, uma das mulheres mais cultas e atuantes dentro do contexto político da época, e que tive oportunidade de conhecer. Ele somava as qualidades de primeira dama do Pará na época, e mais duas ou três atividades que equivaliam à atuação de secretários de estado. Que potencial o Brasil está perdendo! Porque quer suas primeiras damas estaduais e municipais sé para inaugurar creches, asilos e arranjar verbas com promoções sociais? Aí fica a sugestão.

Voltando à pergunta inicial, Izza, não sei se sou admirada, mas faço um esforço danado para valer em trabalho, alguma coisa para ajudar a empurrar este país para a frente.

IZZA — Você sempre foi atuante?

LYLIAN – Sempre. Casei muito jovem e o Túlio já era político. Aprendi a acompanhá-lo desde o início em todas as jornadas. Em Maringá, para onde mudei depois do casamento, fundei uma academia de música. Quando mudamos para Curitiba, abri uma boutique com uma amiga. Maior sucesso. Mudamos depois para Brasília. Tulio tinha que cumprir mandato de deputado federal. Lá fizemos uma pesquisa de mercado e entrei no comércio novamente. Desta vez de alimentos. Sucesso outra vez. Quando Tulio foi convidado para assumir uma Secretaria de Estado aqui no Paraná, voltamos. Então meu irmão Percy me convidou para abrir uma empresa (na ocasião de audiovisuais e som), o Sir Laboratório de Som e Imagem. Daquela data até hoje, muita luta, muito sacrifício, mas, graças a Deus, muito sucesso.

IZZA — E sua atividade no Sir?

LYLIAN – Sou diretora financeira da empresa. A formação é familiar. Percy, meu irmão, é o presidente; minha cunhada Regina, minha mãe e eu. Gostamos dessa origem, pois, além da família, cada um que vem assumir uma atividade aqui dentro passa a ser membro da família Sir. O Sir, nestes 13 anos de existência, passou momentos difíceis, como qualquer empresa brasileira. Mas apesar de alguns empecilhos, cresceu e hoje marca presença no mercado nacional. Daí você me pergunta: é verdade que as empresas e as pessoas, para fazerem sucesso aqui, têm que fazer sucesso lá fora primeiro? A essa pergunta-chavão respondo assim: o paranaense, de um modo geral, recebe com mal-estar esse tipo de interrogação, porque não ê verdade. Na nossa área, principalmente. As agências de publicidade do Paraná, que são nossos clientes diretos, nos prestigiam de uma forma irrestrita, independentemente de fazermos sucesso lá fora ou não. Tentamos sempre estar à disposição do mercado local para execução dos trabalhos, até fazendo o que chamamos “parceria”, que é a união da agência de publicidade com sua criação e a produtora com sua técnica de execução. Estamos muito satisfeitos em manter a matriz aqui em Curitiba, que ê nossa terra.

IZZA – Por que vocês não transferem a matriz para São Paulo onde estão as maiores agências brasileiras?

LYLIAN – Porque, além das nossas raízes estarem aqui, os clientes de outros estados aprenderam a vir a Curitiba para realizar um bom trabalho (isto sem modéstia). Temos equipamentos e pessoal treinado para atender a qualquer exigência do mercado. Nos anos de 86 e 87, tivemos presença no ranking nacional como fornecedores de áudio e vídeo, em 1º e 2º  lugares.

IZZA – E a concorrência?

LYLIAN – Claro que ela existe, e é benéfica, mas como temos 13 anos de área, saímos na frente de muita gente. Desde os equipamentos que estamos atualizando na medida do possível, ano a ano. Você sabe das dificuldades para importar. Temos um investimento atuante na área de pessoa. Existe a chamada “Escola Sir”. Sem modéstia, é importante para um técnico ou produtor ter passado por esta escola, dentro do seu currículo. Com o crescimento da empresa, fomos obrigados a desenvolver vários segmentos, não só na área técnica como administrativa, para atender a demanda. Hoje temos cinco filiais, funcionando a todo vapor. São Paulo, Rio, Brasília, Ribeirão Preto e Florianópolis.

IZZA — Lylian, você sendo uma mulher destacada na sociedade, o que pensa sobre coluna social?

LYLIAN – Passei uma fase, Izza, de verdade, me sentindo constrangida de participar de eventos sociais, com receio de ser fotografada e aparecer nas diversas colunas sociais da cidade. Isso porque estava no auge a depreciação da mulher, no sentido de que ela estivesse presente em vários acontecimentos sociais, então não serviría para assumir uma função de trabalho e dedicação numa empresa. Essa fase passou rápido, porque caíram na real. Se você é convidada para comparecer a vários eventos sociais e gosta, e é prestigiada pelos colunistas sociais, tem mais é que ficar agradecida e lisonjeada por essa deferência. Hoje em dia coluna social significa informação eclética. O leitor recebe uma carga de textos políticos, econômicos, de fundo assistencial e social Veja tua coluna, por exemplo, é informação consistente. Como podemos achar isso futilidade? Me lembro. Tinha um amigo nosso que, para desprestigiar a esposa, dizia que ela não estava informada de algum assunto, porque num jornal só lia colunas políticas e sociais. Pura maldade. Mas, para o bem de todos, as coisas mudaram.

IZZA – E a política?

LYLIAN — Agora somos espectadores. Depois de quase 25 anos do Túlio na ativa e participação integral da família. Hoje tentamos ajudar de outra maneira, através da empresa, gerando novos empregos e, na medida do possível, ajudando políticos amigos. O Marco Túlio, meu filho, está com uma vontade imensa de ser candidato a algum cargo eletivo. Nós achamos que não é hora. Não é covardia, mas a situação está péssima, e para uma primeira eleição “o mar tem que estar calmo”, e como dizem os políticos mais antigos, no momento “o mar não está pra peixe”.

 

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