Curitiba, 17 de abril de 1988
Simpática e elegante por tradição, atua com destaque social e comercialmente em sua “Maria Bonita”, trazendo continuamente novidades, contribuindo assim para a elegância das curitibanas. Solange, simples e extrovertida, presença obrigatória nos acontecimentos “vips” de nossa sociedade, nos conta o porquê do seu sucesso.
IZZA – Solange, você sempre foi destaque em termos de elegância. Isso foi o que a motivou a abrir uma loja?
SOLANGE – Meus filhos já estavam grandes: o mais velho havia completado quatorze anos na época, a mais nova seis anos, e de repente comecei a achar que não tinha muito o que fazer. Sempre gostei de atividade, e especialmente de moda, e também sempre curti me vestir bem. Na época do Shopping Müller, estavam lançando e procurando lojistas e eu fui convidada a abrir a “Maria Bonita”. Como há muito apreciava essa etiqueta, aceitei sem pestanejar. Na verdade, nunca havia trabalhado antes. Quinze anos de casamento, só em casa me ocupando com as responsabilidades do lar, filhos, empregadas, etc. Mas não deu certo no Mueller, e seis meses depois surgiu uma oportunidade no Shopping Batel.
Quando iniciei, não sabia realmente a diferença entre nota fiscal e fatura. Foi engraçado, minhas funcionárias não sabiam também, e estão comigo até hoje. Deu certo, encaramos o trabalho de frente, e claro, surgiram os comentários: “mais uma dondoca brincando de loja”. Paguei pra ver e já faz cinco anos. Atualmente até estou pensando em abrir outra loja em Londrina. Estou muito satisfeita com a boutique, com a etiqueta, com o tipo de trabalho, que de repente me completa, e o mais importante é que nesse espaço de cinco anos cresci muito, dei uma evoluída em todos os sentidos: o trabalho abre mais a cabeça, dá oportunidade de fazermos novas amizades, de conhecimento. Acho bem interessante e super válido a mulher trabalhar.
IZZA – Por que você optou pela “Maria Bonita”?
SOLANGE – Há muito tempo eu já usava esta etiqueta. Aqui em Curitiba, duas ou três lojas vendiam, e realmente, era a roupa que fazia parte do meu guarda-roupa, ano após ano. Clássica, chic, de boa qualidade, nada muito colorido nem multo empetecado, eu me identificava com o estilo. Então, quando foi para trabalhar com a “Maria Bonita”, em especial, pensei: é essa mesma. Se você viajar para Paris ou Nova Iorque, hoje, poderá ver que nós estamos vendendo a moda que estão usando lá no momento, é essa a vantagem: você compra hoje e estará na moda daqui a dois anos e daqui a quatro também. E investimento. Outra coisa que acho interessante, é que não há necessidade de adquirir muitas peças, sabendo combinar quatro ou cinco com o que já temos do inverno anterior, a pessoa estará sempre bem vestida. As cores entram todas: ê a moda “clean”, seda, couro, tricô, malha, e agora lingerie em cetim de seda pura com rendas importadas. Estou até pretendendo um espaço somente para essa linha.
IZZA – Você tom excelente acesso social. Isto facilitou o seu começo?
SOLANGE – Em ternos, porque a curitibana estava acostumada a um padrão de moda, um clássico diferente do clássico que vendo, e de repente, eu entrei com um estilo solto, mas como eu já possuía certa tradição de elegância, tive menos dificuldades em impor a moda. Em todos os setores, o acesso social conta muito, amizades. A gente tem que ter uma bagagem para aquilo que vai fazer, é 90% do sucesso. Eu adoro o que faço, curto e não poderia fazer outra coisa. Viajo, observo, aprecio, participo de meu trabalho o dia todo. Quando não estou lá embaixo, ajudando a vender, estou no escritório, sempre comandando tudo. Tenho que ter atividade, nem na praia consigo ficar muito tempo, porque ficar parada, para mim, é muito difícil, conseqüentemente a gente começa a ocupar o tempo com coisas bobas. Produzindo, a gente se satisfaz, se realiza, e se ganhar dinheiro, melhor ainda. É uma satisfação.
IZZA – Como é a curitibana como cliente?
SOLANGE – Eventualmente faço desfiles, mas não muitos, porque acho que o mercado está sobrecarregado com chás e desfiles. Esta semana fiz um café da manhã para mostrar os lançamentos outono-inverno. Foi uma coisa diferente, pois nunca houve antes. E excelente porque não toma muito tempo das senhoras. A roupa vestida é muito diferente da roupa pendurada, ainda mais a minha. Eu vou ao Rio quatro vezes para ver a maneira como estão vestindo as roupas, as propostas, o jogo das peças, lã com seda, renda e couro, etc., a mistura dá certo. Acho que Curitiba, em termos de moda, está com o que há de melhor, já tem tudo o que tem Rio e São Paula O curitibano é muito exigente, pois é uma cidade teste. Nosso nível é bom e as confecções daqui estão sendo dia-a-dia mais valorizadas porque realmente estamos fazendo coisas lindas, só que às vezes não muito divulgadas. O crescimento ainda assim é grande.
IZZA – E sobre a crise atual, você sentiu alguma diferença no tocante a vendas?
SOLANGE – Alguém já falou que crise ê uma coisa que não existe, e eu estou quase acreditando nisso, se bem que eu atendo a uma classe em que a crise é muito relativa. O único problema que eu acredito ser realmente sério é a OTN, porque fatalmente se transforma numa bola de neve, ninguém segura. No momento, acho que as pessoas estão sabendo comprar melhor, estão mais exigentes, controlando mais a qualidade. Em tempos de crise, trabalha-se melhor, porque se capricha muito mais, mas existe o receio “será que vai dar?”. Pode ser que seja em decorrência disso que tentamos sempre melhorar.
IZZA — Quantas pessoas trabalham com você?
SOLANGE – Na loja tenho duas primas que começaram comigo: uma é gerente e outra supervisora. Tenho também duas vendedoras que também estão comigo há bastante tempo. Desde o começo frisei que não existe patroa-emprega- da, sou a dona da loja porque ê necessário que exista uma, mas somos amigas, e é interessante para todas que a loja vá bem: quanto mais elas venderem, mais ganham. E uma coisa que necessita união para que caminhe bem.
IZZA – Você acha que nós, aqui, seguimos a risca o que vem de fora, ou já temos personalidade própria?
SOLANGE – Nós temos uma moda lindíssima e não temos necessidade de viajar e fazer compras como se fazia antigamente. A nossa já é muito bonita. Até o corte que procurávamos lá fora, também já encontramos aqui. Eu acho também que moda é adaptação de cada um, e não adianta dizer que a moda é mini-saia, se não tivermos condições de vestir uma. Existem vários fatores. Moda é o que nos cai bem, tem que haver equilíbrio, cada um tem que ter sua própria personalidade.
Quanto à moda atual, creio que vai pegar, porque ela estava muito séria, larga e escura, agora voltaram a acentuar a cintura, valorizar as pernas, o busto e mesmo as pessoas que acham que não poderiam usá-la, têm a opção de meias, etc, pode ser que seja temporária, mas vai pegar mesmo. A saia longa jamais vai cair. É prática e elegante. A saia curta tem hora para ser usada. As botas também fazem parte do guarda-roupa da curitibana, e o nosso friozinho é responsável pela elegância de nossas mulheres. Acho elas chiquérrimas, refinadas, diferentes, elegantes.
IZZA – E o seu tempo, como você o divide?
SOLANGE – Sabendo que vou ficar pouco tempo em casa, aproveito muito mais, e a hora em que os filhos estão em casa é muito curtida. A organização é rápida porque sei que não disporei de mais tempo. Política, jamais me dedicaria, porque acho complicadíssimo, mesmo porque não tenho jogo de cintura para isto. Sou mais do comércio, talvez porque tenha sangue árabe. Vida social? Curto boas amizades, que para mim têm um valor incrível. Não sou muito de badalação, prefiro minha privacidade. Gosto de papos informais, discutir assuntos e não com muita gente: prefiro grupos menores.
IZZA – E o relacionamento mãe e filhos?
SOLANGE – Tenho quatro filhos, os gêmeos Alexandre e Mônica, que estão com dezoito anos; Cristiano de quatorze e Paola de dez. Procuro, na medida do possível, porque casei moça, igualdade com eles. Inclusive fizemos uma viagem há oito meses atrás. Passamos quase dois meses estudando, nós cinco. As tarefas eram distribuídas, até íamos para a escola juntos. Fizemos um curso de inglês em Los Angeles. Convivemos, e aprendi muito com eles, e eles comigo. Acho que nos dias de hoje tem que ser assim, porque todos são muito ocupados, e a gente nem se encontra.
Lá, estávamos sempre juntos, e isto tinha um valor imenso, porque para mim a família e os filhos é o que há de mais valioso. Penso que as pessoas estão se conscientizando disso, pois há muita gente infeliz e sozinha. Os antigos valores estão renascendo. Primeiro foi aquela liberdade total, sem censura, mas não é por aí. Atribuo isso ao amadurecimento. O jovem de hoje também é diferente e assumido: quem presta fica de um lado; quem não presta, do outro. O bom está no estudo, no esporte, no trabalho. Eles nos ensinam. O que eu acho básico na educação dos filhos é que eles devem saber que podem fazer se souberem arcar com as conseqüências. Sou evoluída, a favor do diálogo, da abertura total. Palavra livre é mais saudável
IZZA – Você, como boa taurina que é, dinâmica e atuante, conte-nos o porquê de todo esse bom astral?
SOLANGE — O mais importante é a força interior. Se você não acredita em você e naquilo que faz, nada vai em frente. Eu sou otimista ao extremo. Acho que as pessoas têm que ser positivas. Com positividade, tudo o que pretendemos dá certo. Quem pensa assim sempre acerta: é o maior segredo da vida, porque existem coisas que mudam e coisa que não mudam, e cabe a nós mesmas aceitá-las ou não. Se soubermos tirar, mesmo das coisas difíceis, o lado positivo, uma lição boa, por- que todo o mal vem para o bem, e é isso mesmo, a pessoa consegue viver melhor. Bom astral atrai a beleza vem de dentro para fora, a pessoa é bonita desde que transmita coisas boas. Não adiantam os bens materiais. Não é aí que está a felicidade, ela está nas coisas mais simples, momentos simples que trazem tanta alegria.