Curitiba, 20 de março de 1988
IARA adora a vida social, não acredita em obstáculos intransponíveis e se dedica com amor a tudo o que faz. Participante, trabalha em benefício dos menos favorecidos, dando sua contribuição quando necessária. Mãe de Fábio e Adriane. Esta é Iara, esposa do Dr. Benedito Pires Cordeiro.
IZZA – Como é tua vida, Iara?
IARA — Movimentada, na condição de dona de casa, esposa e mãe. A vida social também é intensa. Essa movimentação é ótima, mas, com o passar do tempo, sinto que posso ter outras atividades, sem, contudo, cair no lugar comum. Quero dar minha parcela de contribuição social, ajudando o próximo.
IZZA – Você já exerceu alguma atividade?
IARA – Logo que me casei, fui morar no interior, onde meu marido teve um hospital. Comecei despretensiosamente a trabalhar com ele, na falta de quem o ajudasse. Acabei dominando com grande interesse o trabalho, era exaustivo, mas muito gratificante. Aprendi, estudando e prestando sempre muita atenção a tudo. Acho que trabalhar com vontade, ter interesse no que se faz, e a ânsia de aprender, é uma química infalível. Atuei durante sete anos, e quando fiquei grávida da Adriana, resolvi parar com tudo. Foi quando voltei para Curitiba.
IZZA — Qual o seu ponto de vista sobre a educação dos filhos?
IARA – Bem, pessoalmente, ter filhos foi a grande realização da minha vida. Dediquei-me a eles integralmente. Geralmente, as pessoas acham que educar é uma tarefa árdua. Eu particularmente não concordo Claro que não dei a eles a mesma educação que tive, procurei suavizar, tentando não confundir austeridade com disciplina. Agora, falando sobre educação, noto que em muitos pontos não me diferenciei dos meus pais. Creio que educar filho é diferente de filha, são temperamentos opostos, mas graças a Deus, só tivemos grandes alegrias com eles. O Fábio é um garotão da maior responsabilidade, dente de seus compromissos, claro, além de ser muito bonito, é um ser humano de boa índole. Tenho orgulho dele. A Adriana é a minha realização pessoal, admiro-a muito por sua elegância, fineza e personalidade. Falar de minha experiência com os filhos é fácil, generalizar é impossível.
IZZA – E a Iara sogra, como é?
IARA – Olha, quem poderia responder esta pergunta seria o Mancos, meu genro, mas sobre ele eu falaria horas inteiras. É uma pessoa ótima, muito querida. Nossa admiração por ele foi imediata. Apareceu lá em casa com um jeitinho de quem chegou para ficar. Um ser humano admirável e um profissional competentíssimo, e da maior consciência, além de ser o genro que toda a sogra adoraria ter.
IZZA — Sobre o seu temperamento? Sei que o difícil falar sobre si mesma?
IARA — Meu temperamento? Já passei por várias fases. Tive, inclusive, que aprender a controlar minha expansividade. Sou muito comunicativa, e com o tempo, minha preocupação é constantemente me aprimorar. A gente muda; ter trabalhado no hospital me ajudou bastante, pois aprendi a olhar os verdadeiros valores da vida. Sinto-me feliz por ter tido esta oportunidade.
IZZA – Você gostaria de voltar a essa atividade?
IARA — Gostaria, e muito, mas como sou e tento ser perfeccionista em tudo o que faço, não sei se me daria bem, neste momento em que os valores são tão questionáveis. E também só voltaria se fosse para trabalhar novamente com meu marido.
IZZA – Eu sei que você atua no campo da filantropia. Como é isto?
IARA – Indiretamente, com amigos e um grupo de casais, que se predispõe a auxiliar, colaborando sem vínculos promocionais. Eu faço parte deste grupo excepcional, muito nivelado e homogêneo. Elegemos a entidade a ser beneficiada, pela credibilidade de quem a dirige. Somos um grupo de pessoas conscientes, que se propõem a ajudar realmente, e estamos sempre dispostos, em qualquer circunstância ou carência, desde que nossa colaboração atinja seus reais objetivos. Participo também de um grupo de senhoras que fazem reuniões e lanches, jantares e promoções, e o que é arrecadado aplicamos na compra de mantimentos, cobertores, remédios para os albergues ou pessoas muito necessitadas.
IZZA — Você é uma pessoa muito badalada, acontece muito socialmente. Fale-nos sobre a sua vida social.
IARA — Gosto de festas e compareço a quase todos os convites que recebo. Estou tendo a oportunidade de novas amizades com pessoas maravilhosas. Fiquei muito tempo afastada de nossos amigos, depois que sofri um acidente e precisei ficar imobilizada Nessa época entrei em depressão e não sentia vontade de sai de casa Fui muito ajudada por meu marido e filhos, mas a responsável pela minha recuperação emocional e social foi a minha muito querida prima Neusa Abila, que me deu uma grande lição de vida, pois há bem pouco tempo tinha passado por uma perda irreparável.
IZZA – Você acha que a mulher está se projetando?
IARA — Lógico. Só não acredito na igualdade ou equiparação. Isso não existe em setor algum. A concorrência não deve existir, pois já constatamos, e eles também, que somos mão-de-obra das mais eficientes em todos os sentidos. Acho que é através desta constatação que os homens estão abrindo o chamado “espaço funcional”, tão ambicionado por nós, mulheres. Somos bastante fortes e vamos à luta com perseverança só que dispendemos muita energia e nosso desgaste é inevitável. Na intimidade, somos identicamente sensíveis, gostamos de gentilezas, delicadezas e carinhos. Lembrando Elis Regina acho que cabe aqui um trecho de sua música “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.
IZZA — O que você acha do casamento?
IARA — Acredito muito no casamento. Quando duas pessoas se predispõem a unir suas forças, inexistem obstáculos intransponíveis. Claro que não é fácil, mas não é impossível.
IZZA — E a condição da mulher desquitada?
IARA – A desquitada é antes de tudo uma corajosa pois sofre preconceitos e discriminações. E ela mesma se exclui, se retrai, e, a partir desse comportamento, inibe os outros também. É assim em todas as camadas. Na minha opinião, a condição social da mulher desquitada infelizmente é horrível. Por outro lado, acho que quem teve uma ou mais experiências, está mais preparada e atenta para a vida
IZZA – Você poderia citar algumas mulheres que considera elegantes?
IARA — Claro que sim. Sabina Leão, Daniela Lopes da Veiga, Silvia Abage, Gisela Macedo, Daniele Porciúncula Andréa e Angélica Juste, Ana Cristina Dias, Ana Maria Alegretti, Helena Coelho, Tereza Cristina Messias, Roxana Hakin Araújo, Mainha Ribeiro, Ana Maria e Rossana Braga Cortes. Além dessas, que considero elegantes e de bom gosto, tenho respeitosa admiração por dona Joana Cordeiro de Souza uma das mulheres mais fortes de espírito que conheço, a minha muito querida amiga Lurdes Bastos Porciúncula Mariza Soares de Azevedo, dinâmica e querida Ligia Hakin, e dona Maria Navarro Lins, uma pessoa extraordinária
IZZA – O que você mais admira no ser humano?
IARA – O bom humor, gentileza e elegância
IZZA – E a política, Iara?
IARA — Acho tudo muito confuso e a descrença dominou o país. A corrupção é uma bola de neve e aqui existem os que são e os que sofrem por corrupção. As leis são boas, tão boas que foram se adaptando a eles, que passam impunemente aos nossos olhos. Ê um incrível sistema de leis que transforma vítimas em réus e absolve grandes criminosos. É um verdadeiro faroeste sofisticado. Estamos apreensivos em relação ao futuro. Futuro? Vejamos, desde que me entendo por gente, só ouço falar em crise ou recessões.
IZZA — Iara, já falamos sobre tantas coisas, agora me conte como é seu dia a dia?
IARA – Atarefadíssima, mas nem por isso deixo de rezar, e muito, por todos nós, pedindo proteção sempre, porque sem fé em Deus não é possível viver.
IZZA – Quais são seus planos para o futuro?
IARA – Integrar-me à igreja que escolhi, a presbiteriana cultivar mais as amizades que são imprescindíveis. Não concebo a vida sem elas. Dar muita atenção ao meu filhão; tentar falar de futebol com meu marido; estar cada vez mais próxima de minha filha e do meu genro; entrar no dube de jogo de xadrez; continuar fazendo palavras cruzadas e principalmente ajudar o próximo. Estar sempre disposta a enfrentar e transpor todo e qualquer obstáculo que porventura apareça E para isso só conto com a minha inabalável fé em Jesus, que tem me dado muitas alegrias e força
IZZA – Qual é a tua filosofia de vida?
IARA – Ser hoje, melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje.