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“A VIDA TEM QUE SER UM GRANDE E DINÂMICO DESAFIO” reflete Regina Teixeira Tizzot

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Curitiba, 6 de março de 1988

REGINA KRACIK TIZZOT é um nome expressivo e de luz própria. Inteligente, bonita, atuante e elegante, trabalha e muito na profissão que abraçou, o jornalismo, e hoje ocupa espaço significativo na área. Casada há doze anos com o empresário José Luiz de Almeida Tizzot, tem três filhos, Michele, com dois anos; Luiz Guilherme, com nove e Luiz Eduardo, com cinco. Leva ainda intensa vida social, sendo excelente anfitriã, e como escritora tem um livro e duas monografias publicadas. Em papo informal, Regina nos conta algumas de suas opiniões.

 

IZZA – Regina, você é uma mulher atuante, de projeção social, pontifica e recebe com frequência, acompanha seu marido e trabalha fora. Como é que você sente todo esse papel?

REGINA – Dinâmico, porque faço tudo que gosto. Adoro os acontecimentos sociais, sempre os frequentei. Receber amigos, acompanhar meu marido e trabalhar na minha área, são fatores positivos e permanentes. Sinto, apesar do acúmulo, um grande prazer.

IZZA – Você sempre viajou muito, estudou e morou fora do Brasil, conheceu realidades bem diferentes. De todos os lugares que você conheceu, para onde você voltaria?

REGINA – Viajar para mim é cultura, experiência, maturidade, oportunidade e lazer. De todos os lugares que conheci, voltaria a passeio para Tóquio, Hawaf, Tailândia, Hong-Kong. Já, se pudesse, iria morar na Flórida, em Miami.

IZZA – Como foi que você se descobriu para o trabalho?

REGINA — Sempre trabalhei com meu pai em seu escritório. Morei algum tempo nos Estados Unidos. Lá estudei, e quando voltei, comecei a dar aulas de inglês. Trabalho e independência, para mim, são sinônimos de vida, e nunca parei. Tive também, durante toda a vida, desde menina, exemplo, apoio e muito incentivo para trabalhar e me profissionalizar, por parte de três homens muito importantes para mim: Napoleão Teixeira e João Kracik Neto, meus avós, já não mais neste mundo; e meu pai, João Regis Fassbender Teixeira

IZZA – E o jornalismo?

REGINA – Foi o grande encontro da minha vida, mas vamos pelo começo. Minha primeira faculdade foi de Letras. Falava bem o inglês e o francês, e achava que Letras seria o curso ideal. Não foi. A área de Comunicação me fascinava muito, e na primeira oportunidade que tive, fiz o curso. As experiências iniciais não foram nem um pouco doces. As redações não tinham espaço para novatos, quanto menos para mulheres. Um certo desdém por parte de profissionais experientes, um pouquinho de tirania, mas tudo bem, deu para crescer assim mesmo. Foram essas batalhas que me levaram a este estágio mais maduro e estável. Aprendi, realmente, a brigar pelo meu espaço, graças também às sabotagens iniciais que recebi dos meus “companheiros” de trabalho.

IZZA – Como profissional de imprensa, diga-nos quais são suas áreas de atuação.

REGINA – Atualmente trabalho na Secretaria da Indústria e Comércio, na área de Jornalismo, e mantenho um escritório de Assessoria de Imprensa e Comunicação, onde, com uma equipe eficiente, atendemos empresas, sindicatos, entidades e indústrias, nesta área. Elaboramos ainda discursos, redigimos textos para agências de publicidade, atuamos no marketing político, enfim, abrangemos bem o setor. Mantenho ainda colunas minhas assinadas em diversos jornais municipais e estaduais, além de escrever também em revistas especializadas.

IZZA – Como fica, na sua opinião, o casamento de pessoas com ritmo de trabalho tão intenso?

REGINA – Tem que se abrir mão de muitas coisas, mas separo muito bem um item do outro. Sou partidária do princípio de que não se deve nunca viver em função do outro, porque nada no mundo é eterno, a perda é inevitável em todos os sentidos. Explicando melhor: viver em função de outra pessoa, seja pai, mãe, esposa, marido ou filhos, é altamente prejudicial, pois quando acontece uma mudança, seja ela voluntária ou não, casamento, partida ou morte, troca de cidade, etc., aquele que vivia em função do outro simplesmente perde o rumo. Portanto, voltando à sua pergunta, o casamento de pessoas com ritmo intenso de trabalho só é saudável se houver, de fato, respeito mútuo pelo profissionalismo.

IZZA – Você acabou de falar em perda de rumo. Explique melhor.

REGINA – Veja, Izza, se tivermos em nós mesmas o nosso “eixo principal”, os riscos de perda de rumo são bem menores. Não há chance de culparmos fulano ou sicrano por- uma derrota, ou por um receio qualquer. O compromisso de vida é apenas conosco mesmo, aberto, é claro, às boas trocas afetivas.

IZZA – Com sua experiência de mulher, mãe, dona de casa, esposa e jornalista, quais as providências básicas para a indispensável melhoria do mercado profissional feminino?

REGINA – As mulheres têm que se unir, e não podem aceitar a chantagem emocional. É preciso saber ponderar, para ser uma profissional competente. Não se pode ceder ao mito mulher-maravilha. Ninguém pode ser eficiente no trabalho, bonita, gostosa, elegante, gueixa, etc. Isto não existe. Antes de mais nada, a mulher tem que abandonar de uma vez por todas a ideia de que foi feita exclusivamente para servir e agradar aos outros. O mercado de trabalho feminino pode ser melhorado e muito, na condição de que todas as mulheres coloquem seriedade, prioridade e profissionalismo acima de qualquer coisa. Ao chegar ao ambiente de trabalho, temos que ser somente profissionais, mais nada.

IZZA – Em uma recente matéria sua, você fala em uma nova relação entre os casais, baseada bem mais nas semelhanças do que nas diferenças. Como é exatamente isto?

REGINA – É um basta às verdades estabelecidas. É a morte de modelos herdados, que recebemos em nossa formação e não chegamos sequer a questionar. As mudanças ocorridas nas relações a dois nos últimos tempos foram imensas, e hoje ainda caminham rapidamente. Estas mudanças nos obrigam a pensar e avaliar novas posturas de vida. Esta nova postura a que me refiro induz à trégua e não ao conflito. Portanto, as semelhanças, aproximando, embasam melhor os relacionamentos.

IZZA – E o casamento, Regina, com tantas mudanças e variações de conceitos, como é que fica?

REGINA – Ninguém nasce casado. Esse ato, em principio voluntário, quando imposto deixa de existir. Quando duas pessoas se casam, juram amor eterno que às vezes conseguem, às vezes não. No dia-a-dia, surgem obstáculos de formação de personalidade, de circunstâncias, enfim, de barreiras que se tomam intransponíveis. Portanto, indissolúvel, o casamento é, enquanto dura a decisão interna de mantê-lo e a realidade concreta de crescermos nele com a permanência dos sentimentos. Resumindo: acho mesmo que só vale o vínculo assumido e mantido livremente. Quanto às separações, apesar de sofridas e dolorosas, são preferíveis a se manter uma união com mentiras, por medo, acomodação, conveniência ou covardia

IZZA — Um dos filmes mais polêmicos deste início de ano, “Atração Fatal”, de Adrian Lyne, trata com clareza e realismo um assunto da atualidade: fidelidade e adultério. Como você vê esses aspectos?

REGINA – Quando se trata de adultério, a meu ver, cada caso é único, Izza, e as generalizações são perigosas. Quanto à fidelidade, eu a definiria como uma coisa leve e não uma obrigação. A fidelidade numa relação estável é naturalíssima, de amor e de livre escolha. Agora a pessoa que não comete o adultério por medo, este sim, já é um adúltero em potencial.

IZZA — Além de jornalista, você também é dona de casa. Como está o trabalho doméstico hoje?

REGINA – Para início de conversa, perante a lei e as ciências econômicas, o trabalho doméstico não existe, mas não existe mesmo. Consideram simplesmente o trabalho do lar como social e improdutivo, por não possuir valor de troca, ou seja, é “não-trabalho”. Hoje, existem milhões de mulheres brasileiras vivendo em tomo do enfadonho dia-a-dia do “lar”, e a grande maioria tem dupla jornada de trabalho, fora e dentro do lar. É, na verdade, uma grande injustiça, o desmerecimento com que é visto o trabalho doméstico.

IZZA – O salário feminino é, hoje, parte integrante da renda familiar. Como é que você avalia essa participação?

REGINA – Veja que o salário feminino, nas classes menos favorecidas, frequentemente é maior que o do “chefe da família”, quando não raro é o único, visto que a presença do fantasma do desemprego é uma ameaça constante, além da maioria das mulheres desta faixa serem mães solteiras, viúvas, abandonadas, fugitivas, etc. Resumindo, o salário não é opção, é condição. Já na classe média, alta, existe a opção. No meu caso, sempre houve participação, até por questão de filosofia de vida. Na verdade, tenho muita pena do homem que mantém sozinho casa e família. Além de explorado, é um sério candidato ao enfarte antes dos 45 anos.

IZZA – Qual sua opinião quanto à Constituinte?

REGINA – Me irrita um pouco falar do assunto, enfim, às vezes me desencanto; às vezes me surpreendo e frequentemente me decepciono. Outro dia, por exemplo, foi aprovada a emenda que torna o racismo crime inafiançável e sujeito à pena de reclusão. Fiquei muito satisfeita, extrapolou realmente minhas expectativas. Ocorre, porém, que existem outros crimes gravíssimos no País, que não mereceram até agora igual atenção, como estupro, homicídio e latrocínio. Como é que fica?

IZZA – E quanto ao Brasil?

REGINA – Tende a regredir bastante.

IZZA – Por quê?

REGINA — Estamos perdendo a capacidade de invenção, para resolver os problemas que nos são colocados por crises profundas. Precisaríamos de novo assumir nossos conflitos, já que estamos deserdados pela confiança. Não há compromisso, não há segurança, não há estabilidade nem esperança.

IZZA – Em seus artigos você aborda com frequência o planejamento familiar. Quais as razões para esta insistência?

REGINA – No último dia 11 de julho, as Nações Unidas celebraram o nascimento do cidadão número 5 bilhões. Simbólico ou não, o registro é preocupante. Segundo recente pesquisa de especialistas em demografia da ONU, na virada do século o Brasil (apenas São Paulo) terá cerca de 24 milhões de habitantes. A razão de minha insistência no assunto é onde viverão todas essas pessoas? O que vão comer? Como vão viver? Hoje ainda existe a possibilidade de se propor e viabilizar um programa sério de planejamento familiar. Se esperarmos mais um pouco, assistiremos, infelizmente, à imposição do controle de natalidade.

IZZA – E seus planos profissionais daqui para a frente?

REGINA – Manter e elevar o nível e a qualidade do que já está sendo feito e continuar buscando o novo, a renovação, que é sempre tão vital e estimulante. Para mim, a vida tem que ser um grande e dinâmico desafio a cada dia, para continuar valendo a pena.

 

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