Curitiba, 21 de fevereiro de 1988
Natural do Rio de Janeiro, há muito Gladys vive em Curitiba, onde acontece com frequência nos eventos sociais. Simples e ao mesmo tempo extrovertida, ela se destaca no campo literário, onde já recebeu muitos prêmios. Casada com o psiquiatra Olímpio França Junior, e mãe do Rodrigo Otavio e de Olímpio Neto. Executiva, Gladys nos conta como consegue conciliar todas essas atividades.
IZZA – Além de ser uma escritora renomada. Sei que você desempenha outras atividades. Quais seriam?
GLADYS – As minhas atividades atuais incluem minha atuação no mundo empresarial, literário e social. Sou empresária também, trabalho com a linha de jeans Ferrari. Temos uma fábrica no Rio de Janeiro e consequentemente uma loja aqui. No campo literário, tenho quatro livros publicados. O primeiro, em 1983, “Necessário que Haja”, “De Repente”. “Apenas uma Mulher” e o último, “Afetos sem Retoques”. E, socialmente, adoro participar de todos os eventos culturais, filantrópicos e literários, principalmente.
IZZA – Vamos começar pela Gladys empresária.
GLADYS – Na verdade, comecei para ter uma ocupação. Acho que a falta de atividade gera a depressão. Trabalhar é crescer, ocupar a cabeça. Optei pelo jeans porque faz parte dos empreendimentos do grupo familiar. Começamos no Rio de Janeiro, e no final do ano passado implantamos aqui no Sul e deu certo.
IZZA – Qual é a sua opinião sobre o mercado?
GLADYS – Não posso falar mal, porque para mim está bom. Mas sei que é um problema que atinge a todos no momento. O jeans é mercadoria colocada, o cliente vem a nós porque não cai de moda. Acho que Curitiba é excelente mercado de trabalho. O importante é estar com a mercadoria certa no momento certo. Quanto à crise atual, é só germinar a semente da esperança, e as coisas vão acontecendo naturalmente. Se a gente se imbui somente de desencanto, não caminhamos. Acho que até a classe abastada está em retração. Agora, tudo é repensado. As pessoas conscientes, responsáveis, são equilibradas, mas quando os irresponsáveis deixam de comprar, é sinal de que a situação não está boa.
IZZA – Em termos de elegância, a mulher curitibana é conservadora?
GLADYS – Elegantérrima. Sensual, superchic dentro de sua moda conservadora. Acho que ela não é muito aberta para novidades em si. E dentro dessa moda pessoal de seus padrões ela é linda, ótima. Eu vejo assim. Agora, pessoalmente, meu conceito é livre. A pessoa faz a própria moda porque, de repente, seguir um estilo que não combine coma personalidade gera insatisfação, é uma réplica, a pessoa passa a ser somente uma cópia e não ela mesma.
IZZA – Gladys, com todo esse otimismo, dá para sentir-se um certo misticismo.
GLADYS – Eu acredito em Deus, acho que o destino a gente dá uma voltinha com ele e traça as paralelas. Não sou fatalista, sou mística. Não acredito em coincidências, e sim em muita energia. Não adianta investirmos quando a energia não está na mesma freqüência: temos que nos relacionar com pessoas que vibrem igual. Tudo tem uma explicação, é só estarmos alertas e atentas para a resposta. Me guio pela intuição, onde cada um tem que seguir o seu campo mental. Quando as coisas estão erradas, deixo baixar a poeira e vou à luta. Pois de nada adiantaria ir contra a maré. O misticismo é forte, não se pode lutar contra ele. Com a nossa força espiritual, e sim deixar que ela viva dentro de nós, em nosso meio. Sou uma propagadora da vida. Da fé e de Deus.
IZZA – Como surgiu em você a vontade de escrever?
GLADYS – Acho que já nasci escrevendo. Desde pequena sempre curto muito apreciar as pessoas, a beleza da vida. E registrei tudo isso com as minhas falas. Comecei assim, e meus amigos me deram a maior força, me pediam cópias, então me animei a escrever. Casei cedo, e depois decidi me dedicar mais, e atualmente tenho uma produção permanente. Eu trabalho com a emoção que é a linguagem universal. Sempre contei com o carinho das pessoas para comigo. Com o meu primeiro livro. “Necessário que Haja”, eu ganhei o título de Revelação Intelectual do Ano. Foram vendidos cinco mil exemplares.
Fiquei feliz e tive também a simpatia de Ibrahim Sued. Que publicou a capa de meu livro em sua coluna. O segundo. “De Repente”, autografei à beira-mar. em Cabo Frio. Fui homenageada três anos consecutivos como escritora do ano, e pela Schogun Arte Editora, onde a minha poesia “Por que não” foi premiada. Faço parte também da Academia Brasileira de Letras e da Academia Campista do Estado do Rio de Janeiro. Acho que o trabalho é a fonte de energia, de vida, porque com ele arranjamos mais tempo para tudo. Se desenvolvemos várias atividades paralelas, a energia cresce. Trabalhando, conquistamos
novos amigos e pensamos melhor.
IZZA – Os seus livros são lançados a que nível?
GLADYS – A nível nacional. Primeiramente aqui, depois no Rio de Janeiro e em São Paulo. Gosto de sentir o público lentamente. A aceitação é igual, sinto a reciprocidade na procura, e aqui tenho o meu
público permanente.
IZZA – Existe algum novo projeto de lançamento?
GLADYS – Sim, eu tenho vários convites, de várias livrarias, a Dario Veloso inclusive, e de várias galerias. Gosto muito de associar a literatura com a arte. Porque para mim a beleza é um conjunto. No ano retrasado, autografei no Baile de Debutantes do Círculo Militar. Foi lindo. Cada debutante foi presenteada com um exemplar. Adoro isso. Pois faço um merchandising diferente.
IZZA – Quando você começou, seguiu algum autor ou teve alguma orientação?
GLADYS – Não, sigo a mim mesma, a própria vida, sou autêntica. Comecei a escrever com a minha própria emoção, minha sensibilidade. Meu público recebe e curte o que eu escrevo desta forma.
IZZA — O que você espera das pessoas em relação a seu trabalho?
GLADYS – Eu é que espero delas, mas poderia ser uma alternativa para as mulheres de minha faixa de idade. Que encontrem um caminho a nível de trabalho e produção. O que eu espero? O que já recebo, carinho, afetividade, troca.
IZZA – Qual o seu livro melhor aceito pelo público?
GLADYS – Você sabe que eu sigo a linha do amor. Positivismo, extrair coisas do cotidiano, dar pinceladas, mensagens reflexivas no estilo poético. O livro que mais senti aceitação foi o terceiro “Apenas uma Mulher”. O último. “Afetos sem Retoques”, distribuí para poucas pessoas e agora vai ser mais trabalhado. Mas o que me deixa feliz é que os três tiveram a edição esgotada.
IZZA – Com tudo isto. Conte-nos como é a sua vida.
GLADYS – Sou muito de “click”. Às vezes tenho que parar de escrever e me dedicar ao outro lado. Tenho dois filhos adolescentes: Rodrigo Otávio e Olímpio Neto. Um com dezessete anos e outro com quatorze, e nunca fui uma mãe ausente. Eles participam muito, me dando liberdade de viver, sem cobranças. Consigo fazer tudo. Acho que não é difícil quando se faz com amor, alegria e harmonia. É também com energia que as coisas vão acontecendo naturalmente. O retomo é bom. Sou libriana. Muito ar. guerreira, realizo. Mesmo que as coisas não deem a princípio, o importante é tentar. Isso fortalece. A renda dos meus livros oferto a obras assistenciais. Vejo no momento qual necessita mais, isto me deixa feliz.