Curitiba, 24 de janeiro de 1988
ELIANE MACEDO VIANA, Sra. Luiz Francisco Novelli Viana, sempre em evidência nos meios sociais, conquista dia-a-dia o seu espaço, por sua classe singular. Simples e espontânea, representa a mulher paranaense que com seu dinamismo, une a atuação de jovem empresária ao destaque social.
IZZA – Eliane, como é o seu dia-a-dia?
ELIANE – Acordo cedo, vou para a ginástica, volto, e atendo as solicitações das crianças e da casa. Estou sempre comendo atrás do tempo. Almoço com o marido, e s<5 então me arrumo, senão ando de tênis e Training o dia todo. Sei que agora terei que intensificar ainda mais o meu dia, em função da abertura da loja. A noite, um pouco de televisão, música e leitura, depois das crianças acomodadas na cama.
IZZA – Como surgiu a ideia de abrir uma loja? Seria a veia de comerciante?
ELIANE – Talvez algo herdado e aprendido nos negócios de família. A vontade de usar meu potencial próprio canalizado para alguma coisa, alguma atividade. As crianças estão quase grandes e creio que á a hora. A gente tem que se esforçar, tirar um pouco daqui e dali, e fazer força para as coisas acontecerem. Estou abrindo uma loja (não que tivesse que ser necessariamente uma loja) com um cunhado meu que mora em São Paulo. Tenho uma grande paixão que é viajar. Por isso até poderia ser alguma atividade ligada ao turismo. São oportunidades, coisas que surgem num determinado momento e se encaixam para a realização e a montagem do negócio.
IZZA – Qual é o gênero da sua loja?
ELIANE – Decoração e presentes no estilo country americano, coisas artesanais. Pretendemos também atender no atacado, fora de Curitiba. Queremos trabalhar forte o ano inteiro, não só na época da venda de presentes como Natal, Dia das Mães, etc; que seja uma coisa contínua, a nível maior. O mostruário é mandado para São Paulo em um show room e os lojistas entram em contato. Duas empresas, atacado e varejo, funcionando paralelas, a loja entra como um complemento, e vai ser muito charmosa. Ela preencherá aqui em Curitiba um espaço próprio. Porque não temos ainda nada parecido. Um gênero rústico, leve e muito aconchegante.
IZZA – Você nunca pensou em trabalhar com moda? Acho que teria um jeitinho especial para isso.
ELIANE – Eu gosto muito e me interesso por moda, porque ela faz parte do nosso dia-a-dia, bonita, mutável. Cheguei a considerar, mas é extremamente trabalhosa, porque a pessoa tem que estar sempre atenta, ser rápida, viajar e trabalhar em cima de coleções, cores, contra as estações. Não é fácil ser uma boa compradora de moda, deixando de lado o gosto pessoal afinal, em todo o campo temos que buscar novidades, livros, revistas de informações, visando também bons preços e estar constantemente se atualizando.
IZZA – Como você concilia essa parte de viagens, com família, filhos, marido?
ELIANE – Tudo influi, relacionamento do casal, relacionamento mãe e filho, patroa-empregada, se dependemos ou não de alguém que nos auxilie. O fato de morarmos em Curitiba ajuda. Aqui a cidade nos mima muito. Depois de termos morado seis anos em São Paulo, dá para sentir. Lá, se temos que cumprir cinco compromissos durante o dia, conseguimos fazer dois, devido ao trânsito, às distâncias. Aqui é diferente, conseguimos realizar mais, pelas facilidades. E também a qualidade do tempo, usar e usar bem feito. Se estamos em casa com as crianças, que seja com alegria e amor, é bom para elas. De nada adiantaria estarmos contrariados.
Acho que, se a pessoa é muito voltada para a vida profissional, não deve ter muitos filhos, porque as crianças precisam de muito carinho e atenção, e as responsabilidades são muito grandes. A vida profissional para a mulher não é fácil. Influi até no casamento, pois se a pessoa tiver que dedicar muito tempo à parte profissional, (competição, pressões, etc,) ele fica difícil. No meu caso, receber o apoio, o companheirismo e a confiança do Luiz Francisco, meu marido, é superimportante. Com ele e as crianças, e com muita dedicação e vontade de acertar, divido o meu tempo entre o trabalho e o lazer.
IZZA – E a Eliane mãe?
ELIANE – Temos três filhos, Ana Carolina, com seis anos, Luiz Gustavo, o pequeno, com três anos e Luiz Francisco, com nove. Por mim, teria muitos mais. Eu adoro a maternidade com alegria. Não sei se é um pouco de signo, sou canceriana, tranquila de temperamento, e creio que, quando temos alegria interior é importante que a passemos para os outros. Meus filhos são muito amados, esse lado meu é uma coisa muito gostosa, uma face maravilhosa de minha vida, porque os três são lindos, têm saúde, é um sentimento muito forte, e não tenho vontade de que passe rápido. Quando eles eram bem pequenos, eu não queria que crescessem. Quando somos felizes, queremos estacionar o tempo. Sou muito apegada às fases de minha vida. Para mim, as crianças são leves, são um prazer, e o meu relacionamento com elas é maravilhoso.
IZZA – Fale-nos um pouco da Eliane mulher.
ELIANE – Sempre buscando, quero abraçar o mundo; fazer tudo ao mesmo tempo e da melhor forma possível, e isso me deixa conflitada. Me lembro da época de estudante, além da escola, estudava francês, inglês e alemão, e o mais difícil era fazer tudo bem feito, buscar a excelência… Sou exigente e detalhista e por ser assim, as coisas ficam bem mais complicadas, presto muito atenção aos detalhes; curto, e isso me toma tempo, me perco um pouco na hora de racionalizar meu tempo útil. Penso muito antes de fazer as coisas, e quando faço está feito.
Adoro música, teatro, pintura, jogar tênis, um bom livro e, logicamente, viajar. Acho que tenho uma cabeça sadia, sorte por ter saúde, estar sempre bem, ser alegre. Essa minha missão é importante, no espaço que tenho para acontecer. Passei para você o meu dia-a-dia, isto é o que tenho para dar aos outros. Acredito no destino, mas não que eu viva em função disso. As coisas acontecem se a gente ajuda também com força e otimismo. O importante ê não se deixar abater com os problemas e sim tentar ver o outro lado, “o dia seguinte”.
IZZA – Você já teve alguma experiência em matéria de trabalho fora de casa?
ELIANE – Quando era estudante, nas férias, fazíamos estágio na firma de meu pai e depois fiz o curso de secretariado e em seguida Administração, foi muito válido. Trabalhar na loja é realmente a minha primeira experiência em negócios. Acredito que tudo o que é feito com carinho e amor tem muita chance de sucesso. Optei por um trabalho de que gosto. Me dá prazer, satisfação, e está de acordo com o meu temperamento.
IZZA – Eliane, sei que você passou um tempo fora do Brasil. Por quê?
ELIANE – Sim, nos Estados Unidos, durante dois anos. Fui, ainda solteira, fazer um curso pelo programa Paraná-Ohio. Gostei tanto que, ao invés de ficar somente dois meses, resolvi fazer um semestre todo lá e transferir minhas notas de- pois para a faculdade daqui. Conviver com trezentas moças americanas num dormitório, e só eu de brasileira, foi superinteressante. Foi lá que eu reencontrei o Luiz Francisco que, na época, morava em Boston e fazia seu curso de Mestrado. Apaixonada, voltei para Curitiba para me casar e depois retomamos para Boston.
Como esposa de aluno da Harvard, eu tinha o direito de assistir e participar de qualquer aula oferecida pelo currículo da escola, sem aquela obrigação de provas, notas, etc. Deixava o Luiz Francisco na escola e ia para a minha, e só nos víamos à noite. Eu me ocupava muito. Foi uma época sensível de minha vida, num país estranho, uma vida completamente diferente. Aprendi bastante e cresci rapidamente. Meu temperamento é ativo, dei o máximo de mim mesma, e deu certo. E aquilo que eu já disse. “Tudo que se faz com carinho e amor, dá certo”. Fiz equitação, francês, italiano, literatura americana, história da arte. Depois viemos morar em São Paulo e logo vieram os filhos. Curti o que a cidade me oferecia, porque adoro São Paulo por ser uma cidade dinâmica, excitante. Lá tudo acontece, tem pique. Agora, com as crianças, vida em família, não sei se gostaria de voltar. Aqui na nossa cidade há mais qualidade de vida.
IZZA – Eliane, você gosta de vida social?
ELIANE – Também é importante e faz parte de nossa vida. Gostosa, mas não quando é uma finalidade, uma meta. Acho que deve haver uma combinação de casal, os dois estarem a fim. É muito bom reencontrar os amigos, mas que isso não seja uma constante, de repente nos damos ao luxo de dizer “hoje estou com preguiça de sair, vou ficar em casa”, então é relativo, mas eu acho importante para quem tem tempo e disponibilidade, cultivar isso. Saímos mais para jantar fora ou recebemos em casa. Teatro, aproveito as minhas idas a São Paulo e Rio. Acho uma delícia porque não são todas as peças que passam aqui, e quando viajo é prêmio, parece que tudo tem mais encanto, porque não estou trabalhando, e sim passeando. Adoro Sol, não só na praia, mas também do campo, montanha.
IZZA – E quanto à nossa sociedade?
ELIANE – Acho discreta, difícil de entrar e de formar ambiente para as pessoas de fora. Na crítico porque vivo aqui. O mais importante para mim é ter o direito de participar ou não, e gosto, porque o nosso círculo de amizades está aqui e é aqui que vivemos. E aí que entra a importância das viagens frequentes. E tão bom também conhecermos pessoas novas pois elas sempre nos enriquecem de alguma
forma.
IZZA – Você acha que o nome de família e a tradição, auxiliam na convivência?
ELIANE – Acho e muito, porque não se tem jeito de desligar isso, carregamos para o resto da vida, mas também não é problema, não incomoda. Aprendemos em casa que o fundamental não é o que a pessoa tem, e sim o que ela é. E assim que funciona, só que aqui, em nossa cidade, a cobrança é maior. Mesmo tendo passado uma boa época de minha vida fora, eu nunca me desliguei daqui, não cortei o cordão umbilical.