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“PROCURO APOIAR QUEM REALMENTE ESTÁ PRECISANDO” diz Anice Messmar

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Curitiba, 20 de dezembro de 1987

 

ANICE MESSMAR, com olhar sereno e muita sensibilidade, transmite toda a segurança de quem sabe o que faz. Difícil seria defini-la. Só quem a conhece poderia avaliar quanta bondade e força fazem desta mulher um símbolo, sempre auxiliando o próximo com ações, palavras ou com um simples sorriso Esta é Anice, Sra. Ali Feres Messmar.

 

IZZA – Você tem uma vida dedicada à filantropia desde quando?

ANICE – Bem, desde criança, minha filosofia é servir, ajudar o nosso próximo. Me envolvi com jovens espíritas em Belo Horizonte. Tínhamos um grupo chamado Bezerra de Menezes, e toda semana arrecadávamos roupas, gêneros alimentícios, sapatos, livros e revistas, e levávamos nos leprosários. Começamos assim: fazendo caridade. Os que sabiam cantar, cantavam ou tocavam e representavam também. E nós, que não sabíamos nada de arte, íamos de casa em casa pedindo comida, roupa, isto todos os domingos, para os leprosários de Minas Gerais. Através desse trabalho, nós, jovens, nos sentíamos felizes pela maneira com que eles nos recebiam, e pela felicidade que proporcionávamos.

Para nós era uma grande alegria, e desde muito criança procurei ter amizade com pessoas que também pensassem e apoiassem da mesma forma, sem distinção de cor, classe ou religião. A filosofia era amar, dar apoio. Esta é a minha filosofia. Mesmo que eu nos tenha condições, procuro dar um pouco do que tenho, repartir, mesmo com um sorriso, com uma palavra amiga, procuro levantar o ânimo das pessoas. Se elas nos procuram é porque estão precisando. Na medida do possível tento auxiliar. Lógico, somos seres humanos, cheios de imperfeições, temos tendências a errar, mas sempre procuro raciocinar: antes de tomar qualquer iniciativa. Procuro saber o que é certo ou errado, seguindo o Evangelho, porque sou espiritualista.

IZZA – Você é espírita, Anice?

ANICE – Acredito que estamos de passagem. Após a morte, temos outras vidas. Bem, seria tão extenso falar sobre isto, mas, na verdade, creio na evolução espiritual, no trabalho. Temos uma missão a cumprir, e temos que chegar lá, e só alcançaremos os fins através da caridade e do amor ao próximo.

IZZA – Você atua sozinha ou é vinculada a alguma entidade de caráter filantrópico?

ANICE – Sou vinculada a algumas entidades de Curitiba, mas às vezes atuo sozinha, da forma que seja conveniente. Ajudo, mas primeiramente temos que saber se a pessoa a ser auxiliada é uma pessoa que trabalha, se tem condições, como sustenta a família, se precisa de mantimentos ou se o que eia necessita é o aluguel. Procuro apoiar quem realmente precisa, porque, às vezes, a pessoa não faz nada, não quer produzir, e hoje a vida está difícil. A gente também luta, infelizmente nunca dá para atender a todos. Agora mesmo, estamos construindo no Jardim das Américas, para iniciação profissional de 140 crianças carentes, um anexo à Creche Leonor Castellano, do Clube Soroptimista, junto ao Leocádio Correia, entidade espírita em que trabalhei no passado.

Batalhamos para a construção do Lar Escola. Esta entidade é o grande amor da minha vida: fiz parte muitos anos, fui tesoureira, uma das primeiras fundadoras. O irmão Leocádio me confiou esta tarefa. Iniciei juntamente com amigas, fui coordenadora da construção do Lar Leocádio Correia, e hoje o Lar é um modelo, com excelentes diretoras que o administram. O trabalho é maravilhoso, Amauri Rodrigues da Cruz é um homem abnegado, realmente tem feito muito pela comunidade, tem se dedicado de corpo e alma. De uma forma ou de outra, sempre estamos atendendo aos jovens e à comunidade, com diversos programas. Além do Clube Soroptimista, trabalhei em várias outras entidades, como na Escola das Voluntárias da Cruz Vermelha, no Abrigo Santa Clara, no início da construção do Lar das Meninas das Irmãs Oblatas. São muitas, porque estou nisto há muitos anos, mas temos ainda muito pela frente.

IZZA – E sobre o Clube Soroptimista?

ANICE – Eu participo em várias áreas, tanto na parte cultural como de filantropia, e em algumas outras programações do clube, porque viajamos, participamos de congressos, gostamos de fazer novas amizades. Isto é muito importante, e assim estamos sempre aprendendo.

IZZA – Você é dinâmica, não?

ANICE – Eu adoro trabalhar. Agora mesmo estou decorando as lojas, ajudo bastante meu marido. Os enfeites natalinos sempre alegram. Atualmente faço parte do departamento de compras. Antes eu ficava no caixa, mas descobri que adoro comprar. Tenho também a Zoo, uma loja muito bonita. Bem, o importante é trabalhar. Se estou ocupada 24 horas, estou feliz. Não gosto de ficar sem fazer nada, e geralmente as pessoas que têm muito o que fazer sempre procuram mais, e as que não têm nunca dispõem de tempo para nada nem para ninguém.

Eu cansei de convidar pessoas para nos ajudar. “Eu não tenho tempo”, vivem envolvidas com salões de beleza e futilidades, e não ajudam. Se procuramos ajuda é porque precisamos, claro. O governo sempre contribuiu para as entidades, mas o gasto é maior. É uma chamada a essas mulheres, que sejam mais atuantes, apoiem o nosso trabalho, contribuam. Estamos procurando construir, é importante que andemos de mãos dadas. Não acredito que ninguém não possa dispor um pouco de si mesmo em favor do próximo.

IZZA – E os planos?

ANICE – No próximo ano gostaria de viajar com meu marido, porque há muito planejo, e acabo ficando aqui. Sempre surge alguma programação que necessita do meu auxílio, e me envolvo. Gostaria também de iniciar um negócio meu, de moda classe A. Também adoro arte, teatro. Talvez monte um escritório de empresariamento artístico, ou uma casa de presentes. Não sei ao certo.

IZZA – Você recebeu muitas homenagens, sei que não gosta de falar sobre isto, mas conte-nos um pouquinho a respeito.

ANICE – Tenho uma parede com diplomas e medalhas. É gratificante. Durante 25 anos venho recebendo: Filantropia, Destaque Paranaense, Mãe Soroptimista (fiquei muito comovida), Troféu Bento Munhoz da Rocha Neto, Benemérita da Cruz Vermelha, Personalidade Paranaense, quase todos os anos. Destaque do Ano, recebi cumprimentos por várias programações, pelo sucesso, pela arrecadação e também o título de comendadora da fraternidade universal do Rotary Internacional em São Paulo, uma festa linda. Depois, meu nome foi mencionado para receber o título de dama oficial do país, agora estou recebendo um de Paris, pelo intercâmbio cultural que tem com o Brasil. Ê gratificante. Eu guardo tudo. Agradeço a todos que me prestigiaram, os jornalistas, etc. Todo mundo. Sou uma pessoa simples, a vida é esta. Vou trabalhando, filhos, loja, caridade. Me realizo assim.

IZZA – Com tantas atividades, me fale de você como esposa, mãe e avó.

ANICE – Sou organizada, tenho tudo em ordem, casa, roupas. Gosto de atender bem minha família, até na comida. Cada um tem um gosto. A casa, decoro- a pessoalmente, os enfeites, a árvore de Natal, tudo. Dá tempo para tudo, e uma vez por semana saio com as amigas, jantamos fora e resolvemos detalhes de alguma promoção. Como mãe, tenho 4 filhos, 3 mulheres e 1 homem, todos maravilhosos. Me dão o maior apoio, todos trabalham. Como avó, tenho paixão pelos meus 4 netos, são lindos, faço por eles tudo que não fiz pelos filhos, acho que é sempre assim, não é? Agora, sobre mim, é tão difícil falar sobre nós mesmas. Taurina, romântica, sempre estou sonhando. Amo a vida, as pessoas, as coisas bonitas. Gosto de fazer, participar e aprender. Adoro música. Minha musa foi Dalva de Oliveira. No teatro também fiz grandes amigos. Abomino futilidades e falsidade. Vivo intensamente todos os momentos da minha vida. Curto pintura. Do Paraná, De Bona e Victorina Sagboni, minha amiga.

IZZA – Sobre o teatro, você já trouxe ótimos espetáculos para Curitiba.

ANICE – Tenho boas amizades, são pessoas incríveis, criativas. Ultimamente veio Paulo Autran, fantástico. Fizemos a estréia da peça dele, “Tributo”. Walmor Chagas, ítalo Rossi. Eu coordenei todas estas promoções beneficentes. Conheci Fernanda Montenegro quando veio fazer uma peça em prol do Hospital das Clínicas, na qual fui homenageada como patronesse de honra, no Guairão. São homenagens em conseqüência do que faço. As portas se abrem, nunca tive dificuldade de tentar falar, e nunca uma porta se fechou para mim. Quando coordenei, durante anos, a Campanha do Agasalho, o sucesso foi absoluto. Tantas senhoras que eu nem conhecia ligavam se oferecendo para contribuir, atender telefone, etc. Até as penitenciárias se vestiram.

IZZA – E no PROVOPAR, você colabora também?

ANICE – Estou dando apoio a Maristela Requião, que está com um projeto muito bonito, que vai resolver um grande problema. “Menino de Rua”, pioneiro no Brasil. E o curitibano colabora, claro que há exceções, mas no geral, sim. Fundamental é que haja apoio para que ajudem o menor carente, ajudem a comunidade, pois a pessoa estará se beneficiado também. Acho que através da caridade chegamos a Deus. “Fazer o bem sem olhar a quem”, amando nosso próximo, dando um pouco de si aos outros. Às vezes, a pessoa não pode ajudar, mas uma palavra de carinho e incentivo a quem promove é muito importante, pois não é fácil. Fazemos, às vezes, muito sacrifício, pois também temos casa, marido, filhos, a batalha do dia a dia. Quem pede está fazendo alguma coisa em troca. Pedir não é fácil. Então não custa auxiliar.

 

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