Curitiba, 15 de novembro de 1987
LENITA, jovem executiva, vem atualmente conquistando seu espaço com muita criatividade. Dinâmica e atuante ela fala rápido e tem pressa em viver a vida. Por isso, apesar dos seus 26 anos, sente-se feliz por poder fazer aquilo que gosta. Lenita, conte-nos um pouco do seu mundo…
IZZA – Como vai o “Mercado Comum”?
LENITA – O Mercado Comum não nasceu de estalo, e sim como se houvesse uma vocação predestinada, um projeto que teve início há 5 anos atrás, uma parada, mudanças e a idéia sempre viva na
cabeça. O sonho aliado a muito trabalho vai se tornando realidade juntamente com a sócia e amiga Maria Otília de Andrade, Joinvilense por excelência.
IZZA – Qual é o primeiro passo na criação de cada coleção?
LENITA – Felizmente sou uma pessoa atenta. Para criar uma coleção é preciso fazer um esquentamento, observar, conhecer um pouco de tudo. Nossa maior preocupação é a escolha dos materiais, pois estamos continuamente buscando nas pessoas, nas ruas, na natureza, o novo. São adereços em couro, metal, resina, onde a feminilidade é o alvo e o limite. Apenas o bom senso, uma questão de proporção, direção e intenção.
IZZA – O que você está achando da época atual comercialmente?
LENITA – O comércio sempre teve suas fases e altos e baixos, mas os bons produtos têm mercado certo. Quem lança um produto com planejamento e pesquisa condizente, sempre atinge seus objetivos. Eu não acredito no comércio feito como uma segunda ou terceira alternativa. Todo o negócio necessita ser pensado e repensado.
IZZA – Como você divide o seu tempo, sendo este um ramo que necessita de constante atenção?
LENITA – O lado profissional é muito forte em mim. Sou “ariana” convicta, agitada por natureza, mas o meu papel de mãe é algo importantíssimo. Educar não é uma tarefa muito fácil; é preciso muito amor e compreensão. Quando estou em casa, o meu tempo é todo dedicado a Gabriela, minha filha. Sonhos, fantasias e estorinhas que eu mesmo invento ou adapto. Atenção é tudo que se quer. Acho que é
esse o caminho.
IZZA – Em se tratando de política, como você vê o tão badalado “problema econômico”?
LENITA – A situação brasileira hoje é caracterizada pela política desenvolvimentista, adotada por nossos Governos. A meu ver, uma política típica de países do terceiro mundo, contrária às nossas vocações naturais. Deixam-se de lado investimentos básicos como educação, o óbvio, a pesquisa e planejamento sem o qual nunca chegaremos a ser uma nação forte e saudável. Agricultura e turismo, vocações naturais de nosso país. Quanto ao badalado problema econômico ou à dívida externa, tenho certeza não ser nosso problema básico e sim consequência da nossa desastrosa política desenvolvimentista. Sem planejamento voltado a investimentos seguros, poderíamos até achar minas de ouro, que nunca conseguiríamos equacionar. Nossos problemas econômicos são um saco sem fundos.
IZZA – Já que estamos falando na situação atual, até que ponto ela influi no campo da moda?
LENITA – Ela atinge diretamente o consumidor e mexe no seu bolso, com seu poder aquisitivo reduzido. Em consequência disso, as pessoas compram menos porque têm que se voltar bem mais para o básico.
IZZA – Como é o seu sistema de trabalho?
LENITA – Cooperativo. Tudo é supervisionado e controlado por nós mesmos. A qualidade é a nossa principal preocupação e por isso nossos produtos são procurados e bem aceitos.
IZZA – Conte-nos como foi o tempo e que atividade você desenvolveu em Florianópolis?
LENITA – Para mim foi um privilégio viver quase 5 anos em Florianópolis. Lá, as coisas gostosas têm o dom de se misturarem, transformando-a numa cidade que, além de ser uma capital de Estado situada numa ilha de 42 lindas praias, de possuir pitadas de lindo e autêntico Nordeste dentro do Sul desenvolvido, ainda possui um povo maravilhoso com uma energia contagiante. Tive gratas oportunidades de desenvolver atividades ligadas ao ramo de confecções, chegando a promover desfiles gratificantes em minha residência, o que me proporcionou um quinhão a mais de conhecimentos para o desenvolvimento de meus projetos.
IZZA – O que você gosta de curtir nas horas de lazer?
LENITA – Adoro a leitura. Leio muito, principalmente Olga, de Fernando Moraes e Gabriel Garcia Marquez, meus preferidos. Minha outra grande paixão é a música: a força do jazz, o seu ritmo algo que não é apenas musical, mas também espiritual, eu respiro música 24 horas por dia.
IZZA – E a vida sentimental?
LENITA – Acho que todo mundo deveria sempre se sentir apaixonado. Gostar de alguém é ver a vida mais bonita, como diz nosso grande e imortal poeta Vinícius de Moraes “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”
IZZA – Quando você pretende lançar sua nova coleção?
LENITA – No momento estamos em pleno pique de produção, criando uma nova linha de bijuterias. São peças “cleans”, ótimas para serem usadas no final de ano. Lançaremos também brincos práticos e leves, bem alto verão, próprios para nosso clima tropical.
IZZA – Você se considera uma mulher de sorte?
LENITA – Sim. Nos meus 26 anos posso me considerar uma pessoa feliz. Tenho um trabalho que me traz grande satisfação, uma filha maravilhosa e amigos que adoro e curto sempre que posso. Não existem segredos para mim. Acho positivo o meu apetite de viver e também o modo natural como busco a convivência com as coisas mais simples da vida, pois invariavelmente penso que é por aí que os sonhos mais fantásticos vão se concretizando.
IZZA – Quais são seus planos futuros e o que você espera da vida?
LENITA – Muita produção, muito trabalho, fazer várias coisas. Acho que eu não conseguiria desempenhar uma só atividade. Acredito no ser humano e em sua capacidade de desenvolvimento, sempre em busca de novos caminhos. Uma coisa assim como bem retrata o “atualíssimo” homem público Mikhail Gorbachev, procurando alertar o mundo em seus últimos pronunciamentos, que estamos todos no mesmo barco, A TERRA, e assim sendo temos a obrigação de procurarmos juntos nossos caminhos para a humanidade, pois que não se iludam os que pensam que haverá uma nova arca, pois a lição já nos foi ensinada. Cumpre a nós sabermos interpretá-la.