Curitiba, 16 de junho de 1991.
Curitiba. Hoje acordei bem disposto e saí andando pelas ruas semi-desertas.
É domingo. São oito e meia. Faz um pouco de frio. É bom o frio quando se anda ou quando se corre. Faz bem ao fôlego. Você não cansa. Gosto de andar por ai sem rumo, sem destino, olhando as vitrines que estão abertas, reparando nas pessoas e nas coisas que encontro no caminho.
É sem dúvida um outro ângulo de visão desta querida cidade que me deu muitas alegrias e poucas tristezas.
Aqui sou feliz. É muito bom pelo menos sentir-se feliz consigo mesmo.
Dizem as propagandas municipais que vivemos em uma cidade ecológica. Que bom seria. Mas, infelizmente, estamos muito longe disso. É só olharmos para os lados, no centro, para mais longe, nos bairros, as árvores cobertas por poluição negra nas avenidas, e rapidamente o sonho ecológico se desfaz.
A propagando é forte, mas a realidade está aí para todos verem.Como diz a slogan: “só não vê quem não quer”.
Mas vamos mudar de assunto. Apesar de tudo a minha Curitiba “é bonita demais”, como diz aquela letra de um samba antigo se referindo a Copacabana. Eu particularmente preferi fazer um “swing”, no bom sentido do ritmo mesmo, cantando a nossa cidade:
“Curityba, Curityba”, com esse título, e com versos como: “esta cidade linda, mil versos vão dar”, “é Curitiba, é minha vida, meu mundo enfim”, “o verde dos parques, é sonho à parte, as noites não são nunca iguais”, e assim por diante.
É fácil falar desta cidade. Fico feliz em ser seu cidadão honorário, aliás, um título que muito me honra em vida, em uma cidade onde só se lembram dos seus artistas depois da morte.
Aí resolvem homenageá-los com o nome de rua no Parque Barigui, ou dar o nome em uma das emboloradas salas de um departamento qualquer da Fundação Cultural.
É muita pobreza de espírito. Muito amadorismo para o meu gosto. Mas, infelizmente onde tem o dedo da política não existe arte, só especulação de elementos que sem qualquer capacidade eletiva exercem “cargos de confiança” onde deveriam estar aqueles que entendem do assunto pela sua vivência, ou seja, os nossos artistas de todas as artes: música, literatura, pintura, escultura, teatro, etc.
É uma pena, pois se assim o fosse, a minha Curitiba seria outra. Mais moderna, menos provinciana, mais ecológica, e um grande pólo cultural.
Para quem não sabe, em todas as áreas citadas temos potencial humano do mais alto gabarito. Porém, o que não temos é oportunidade para mostrar isso tudo ao Brasil e ao mundo.
O artista antes de tudo é guerreiro que luta com todas as suas forças para mostrar o seu trabalho. Muitos sucumbem no caminho, outros como eu, não desistem nunca.
Mesmo lutando contra os moinhos de vento daqueles que não fazem, criticam, e tentam não deixar fazer. Esse é um dos senões da minha querida Curitiba, apesar de eu ser londrinense, sinto-me em casa. Apesar dos pesares, sou um cidadão. Apesar dos entraves e destraves, escrevi em minha música e ratifico: “Curitiba é querida demais”.
PAULO HILÁRIO BONAMETTI (in memorian)
Industrial
Diretor de Marketing e Propaganda da National
Músico – Poeta – Compositor
Advogado