Curitiba, 9 de junho de 1991.
Como temperar o amor pela cidade, se não agir da mesma forma que se faz diante da mulher: evitar que o impulso, que a emoção, que a paixão, tornem o encontro, um desencontro e ainda impedir que essa unidade seja apenas de prazer que perturba o sentimento?
Faço-lhe a corte, Curitiba, como amante à moda antiga e desfruto com o olhar táctil seu corpo-continente-contingente, numa fusão de memória e consciência onde redescubro como seio, um olho d’água em meio à campina verdejante da infância e mamo, sofregamente, essa linfa generosa que vem do fundo da terra e me retempera e me refaz.
Roubo de sua entranha esse fundamento de vida como se retornando à viagem fetal e com ele, como no batismo, faço meu juramento e minha aliança, tão forte e significativo quanto o arco-íris que Deus mostrou, bom comunicador que era (altamente entendido em semiologia), a Noé em sua arca em meio à terra inundada.
Um testemunho de amor e um compromisso de luta para que a cidade de fato se humanize por sua apropriação adequada pelo homem e o banimento – este necessário, inadiável – da chaga das ruas com esses meninos de rua feito guerrilheiros, mais duros e sofridos que os “capitães de areia” de Jorge Amado.
Para amá-la mais é preciso que não a desumanizem com invólucro falso da modernidade.
Assim será a perfeita fusão como no amor em que a posse é dupla.
LUIZ GERALDO MAZZA
Jornalista