Curitiba, 24 de Março de 1991
ERYCLÉA FREIRE GUIMARÃES; Presidente do Conselho Permanente da Mulher Executiva, Diretora do Banco da Mulher, empresária, na liderança da E. G. Bijou, ela se destaca como mulher atuante e inteligente que é, distribuindo o seu tempo com dedicação. Hoje ela nos conta um pouco de seu dia a dia e o que pensa sobre os assuntos da atualidade.
PESSOALMENTE
Signo: Leão;
Cor: Cores claras ou vibrantes;
Filhos: Alessandra (20 anos) e Noel (16 anos);
Comunidade: A nossa é privilegiada a nível de Brasil.;
Sociedade: Nuinto ativa; não participo muito devido meus afazeres mas admiro as pessoas que trabalham nela;
Planos: Sempre muitos. O difícil é conseguir encaixa-los para que todos se realizem;
Vaidade: Sou muito desligada para ser vaidosa;
Izza – Como vai o Conselho da Mulher Executiva?
Erycléa – Atualmente sou a presidente do Conselho, que é uma atividade voluntária dentro da Associação Comercial do Paraná. Confesso que esta atividade muito me absorve mas é gratificante.
Izza – Quantas presidentes já passaram pelo Conselho?
Erycléa – A primeira presidente foi a Lá Engel que fez o trabalho de implantação. Depois assumiu a Margot Canet, empresária experiente, batalhadora. E agora nesta fase começamos a expandir. É uma sequência onde uma complementa o trabalho da outra. Hoje, abrimos as portas para novas mulheres que estão vindo para participar.
Izza – Como presidente qual foi o seu trabalho inicial?
Erycléa – Estamos nos empenhando para que não haja reeleição. A presidente deve permanecer apenas por dois anos.
Izza – Porque somente por dois anos?
Erycléa – Deve haver continuidade com renovação, assim abrimos portas e oportunidades para novas companheiras. Atualmente contamos com 10 conselheiras e a nossa meta é chegarmos a 40 até o final do ano. Quando eu finalizar o meu mandato passarei a ser conselheira assim como boa parte da diretoria atual.
lzza – Você acha que atualmente a mulher está ocupando o seu espaço?
Erycléa – Hoje elas estão presentes como nunca, na imprensa, nas empresas, na educação etc., elas estão se revelando. Este é um potencial que não estava sendo aproveitado em sua totalidade.
lzza – Porque não estava.sendo aproveitado?
Erycléa – Talvez por falta de conhecimento. Atualmente a mulher tem mais recursos, mais chances de crescer, mais portas foram abertas e acho que num futuro bem próximo teremos um número maior de mulheres que estarão ativamente engajadas em movimentos diversos e que vão garantir o espaço natural que ela sempre mereceu.
lzza – É importante para a mulher, participar da Associação Comercial?
Erycléa – Me recordo que quando o Conselho foi aberto, a Lá Engel me convidou a participar. Na época eu era conselheira e não aceitei porque justamente estava começando a minha atividade profissional e não me sentia preparada para entrar na Associação Comercial, quando o que deve acontecer é exatamente o contrário. Desde o início de uma atividade, as pessoas deveriam buscar a Associação Comercial do Paraná para receberem dela o apoio necessário para crescerem com segurança.
Izza – E o Banco da Mulher?
Erycléa – Paralelamente às outras atividades sou diretora do banco da Mulher que é uma associação de auxilio a pequena produtora com uma função quase que social de orientação, incentivo a pequenas produtoras que começam em confecção ou mesmo na parte artesanal.
lzza – Os resultados tem sido compensadores?
Erycléa – Até muito compensadores. Do início até hoje temos casos interessantes de pessoas que começaram o seu negócio emprestando dinheiro para comprar o maquinário necessário e hoje exportam contêineres de mercadorias. É um trabalho bonito que não aparece muito, mas que tem dado frutos.
Izza – Com as medidas econômicas o banco foi prejudicado?
Erycléa – Bastante prejudicado e vem sendo tolhido em suas atividades no último ano. Realmente não foi fácil mas agora inclusive o Conselho da Mulher executiva está assumindo um plano de cooperação.
Izza – Em que consiste este plano de cooperação?
Erycléa – Vamos montar cursos e gerar fundos para subsidiar atividades executivas para o Banco. A parte executiva interna não tem respaldo financeiro e para crescer sem a contratação de pessoas é difícil, então o Conselho vai assumir uma parte e auxilar o Banco. A linha de crédito está a cargo do Bamerindus,
Izza – Como os homens tem encarado esta movimentação feminina?
Erycléa – Alguns, até com surpresa dentro da Associação Comercial do Paraná. Eu soube que uma parte dos homens viam o Conselho como pouco ativo, e até chegaram a comentar na extinção do mesmo. Hoje, pela totalidade de pessoas que oferecem auxílio, parabenizam e admiram o nosso trabalho, constatamos que ele está sendo reconhecido.
lzza – E a Erycléa empresaria?
Erycléa – Tenho a E. G. Bijou, um negócio pequeno por opção. Quando.comecei apesar de ser extremamente organizada, eu não tinha noção de como tocar um negócio. Aprendi muito com o tempo e esse respaldo me foi dado pelo Programa Nosso que rapidamente me mostrou que eu deveria crescer. Montei a empresa mas não pretendo aumentá-la porque exigiria mais de mim e consequentemente eu prejudicaria o meu lado familiar. Por enquanto eu preciso também de tempo para minhas outras atividades.
lzza – Quais as medidas que você adotou para enfrentar a crise?
Erycléa – Estamos no mercado há 8 anos e trabalhamos somente por atacado. Temos clientes no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estamos em fase de expansão e justamente para fazer frente a crise, que atravessamos decidimos expandir em vez de retrair. Estamos abrindo um setor de custos no tocante a venda de peças e acho que vamos dar uma resposta a chamada de mercado. Creio que estou fazendo o certo na hora certa.
Izza – Você trabalha somente com bijuterias?
Erycléa – Temos uma sequência industrial de produção. Trabalhamos com bijuterias finas principalmente com colares.
Izza – Eu soube que você faz parte da “Curitiba Mostra Moda”.
Erycléa – Desde o ano passado. É uma empresa que foi formada e que promove feiras profissionalmente. O grupo é bom e reúne as melhores confecções de Curitiba. Já montamos duas feiras que foram sucesso absoluto por que aconteceram durante o período crítico da nossa economia. Uma logo depois da posse do Collor, outra em novembro e estaremos novamente atuando em abril no Hotel Bourbon.
lzza – O que você achou da implantação do código do Consumidor?
Erycléa – Um avanço para o Brasil, para os consumidores e para as empresas. Serão premiadas as corretas que sempre trabalharam de forma honesta oferecendo qualidade. As outras terão que se adequar às normas.
lzza – Em tua opinião o lado negativo qual seria?
Erycléa – Sei que vamos ter problemas no início. É um código corajoso, minucioso e audacioso acho que até melhor do que o da Alemanha só que a nível de povo não podemos fazer comparação, pois o nosso, não tem acesso a educação como deveria ter, por isso não está a altura de um plano tão completo. Em segundo lugar, temos um judiciário, de um lado, extremamente competente em qualidade e deficiente na quantidade, infelizmente sem o número suficiente de pessoas para julgar todos os casos que advirão com a implantação do código do consumidor. Mas, acredito que vamos passar por alguns excessos antes de chegarmos a um patamar normal.
Izza – Como é a Erycléa de temperamento?
Erycléa – Sou conciliadora. Tenho gênio forte controlado e estou sempre disposta a ouvir, depois, pensar e refletir antes de tocar alguma decisão. Assim consigo tomar posições adequadas. No mais sou dinâmica, adoro pic-nic e programar viagens, estudar línguas, etc.
Izza – E o teu hobby?
Erycléa – A pintura. Inclusive em minha casa tenho quadros pintados por mim, acho que tenho veia artística, talvez algum dia eu agilize este lado.
Izza – E o Feminismo, o que você pensa a respeito?
Erycléa – A mulher é feminina naturalmente e não tem que fazer desta parte uma batalha e sim ter o seu espaço e conviver lado a lado com os homens. Veja, não existe um movimento similar a nível masculino, enfim a mulher não necessita se engajar num movimento que a defenda.
lzza – Para finalizarmos o que você gostaria de dizer?
Erycléa – Acho que é muito bom estar junto ao Conselho Permanente da Mulher Executiva, pelas pessoas que acabamos conhecendo. Claro que podemos falar de grandes mulheres do Brasil e temos grandes mulheres aqui em Curitiba e isso para nós é muito importante. Podemos a nível de mulher pegar exemplos no mundo como Golda Meir, Margareth Thatcher que conseguiu se impor dentro de um contexto europeu, mas se pensarmos em nosso âmbito temos aqui uma Fani Lerner que com fibra, atua, e que mantém a sua alegria de viver.