Curitiba, 10 de Março de 1991
Rosarita Dotti; Nome expressivo e atuante em nossa. sociedade, dedica-se ao lar e à comunidade, trabalhando incansavelmente no Projeto de Teatro para a criança carente. Advogada, mãe de Rogéria e Cláudia, esta é· Rosarita, sra. dr. René Dotti.
lzza – Como vai o Projeto do Teatro para a criança carente?
Rosarita – Vai muito bem e acho que, até agora conseguimos realizar em parte nossos objetivos. É uma Fundação de Teatro liderada por mim e por Nely Almeida que funciona com o apoio do Provopar Estadual e da Secretaria de Cultura.
Izza – Qual seria o principal objetivo deste Projeto?
Rosanta – Conseguir que as crianças aprendam e gostem de ir ao Teatro. Desenvolver nelas o gosto pela Cultura e talvez, quem sabe, descobrir novos talentos.
lzza- Trabalhar em prol de um projeto assim, no Brasil não é complicado?
Rosarita – Não diria que é complicado e sim, trabalhoso uma vez que, aqui não se educa a criança voltada à Cultura porque a alimentação vem em primeiro plano, e depois, tenho certeza que, os resultados virão com o tempo pois, não se pode mudar a mentalidade de um povo rapidamente. Teria que ser modificada toda uma estrutura de condição de vida econômica primeiramente.
lzza – Você acha que o atual Governo está cumprindo o seu papel no tocante ao incentivo cultural?
Rosarita – No âmbito estadual, sim, mas no Federal, o incentivo não está existindo porque as preocupações estão voltadas aos problemas da inflação, difícil de ser resolvida. A extinção da Lei Sarney também tem dificultado a arrecadação de verbas para os que pretendem fazer alguma coisa.
lzza – Somente as crianças carentes tem sido beneficiadas com este projeto?
Rosarita – Conforme fomos sentindo as necessidades e adquirindo experiência estendemos também os benefícios para os idosos levando o Teatro até os asilos com o objetivo de distraí-los.
lzza – Os patrocínios têm sido difíceis?
Rosarita – Claro que contamos com o auxílio dos empresários para o desenvolvimento desse projeto, mas algumas vezes quando vamos até eles, constatamos que, prefeririam patrocinar algo voltado a saúde ou a alimentação. Aí eu pergunto: os carentes não têm o que comer porque não tem cultura ou não tem cultura porque não tem o que comer?
lzza – Vocês. contam com grupos de Teatro específicos?
Rosarita – Sim temos grupos que apresentam peças educativas que levam uma mensagem significativa para a platéia. Uma das peças preferidas é o Pinha, Pinhão, Pinheiro que conta a história do Paraná.
lzza – O que tem sido gratificante?
Rosarita – Nesse trabalho o mais gratificante é sabermos que estamos plantando esta semente. Sabemos que ela germinará a longo prazo. Talvez eu nem chegue a ver os frutos, mas tenho certeza que daqui há alguns anos poderemos ter uma geração de pessoas voltadas a cultura.
lzza – O que poderia acelerar esse processo?
Rosarita – Se tivéssemos mais colaboração em âmbito nacional, mas como não há, devemos melhorar pelo menos em nossa cidade.
lzza – Em tua opinião como anda a cultura em Curitiba?
Rosarita – Acho que nossa Curitiba já está sendo mais respeitada nesse ponto, as pessoas já estão mudando a sua noção sobre cultura. Nestes quatro anos muitos horizontes foram abertos e o nosso estado tem sido uma revista de bordo, onde dizia que Curitiba é a capital da Ópera e contando sobre as óperas que tem sido apresentadas aqui no Guaíra. Isto divulga o nosso Estado, inclusive para um público diferente.
Izza – O que você acha da evolução feminina?
Rosarita – Muito boa, porque a mulher cresceu, avançou e sua participação atualmente é grande em todos os segmentos da sociedade. Hoje, ela está no mesmo nível e condições de competir com o homem em todos os planos.
Izza – Você acha que atualmente ela é tão valorizada quanto o homem?
Rosarita – Não tanto quanto deveria, mas a tendência é dia a dia aumentar esta valorização pois agora ela dispõe de liberdade, o que não acontecia antigamente quando ela nem podia expressar as suas opiniões. Para haver esta evolução também o homem teve que mudar, pois hoje ela não é somente aquela mulher que cuida do lar e sim, a que o acompanha, participa e questiona.
lzza – Você acha importante a mulher trabalhar?
Rosarita – Não só trabalhar como se manter atualizada. Aquela que só permanece dentro de casa não evolui, fica com as idéias limitadas e com isso não dá a oportunidade para que os filhos evoluam.
Izza – Qual é o seu hobby preferido?
Rosarita – Adoro lidar com a terra, plantar ver a evolução de uma planta. Gosto também de cozinhar esporadicamente. Sempre estou buscando novas receitas sofisticadas. Meu marido aprecia e isso é um incentivo.
lzza – Como é o seu temperamento?
Rosarita – Acho que não tenho um temperamento difícil uma vez que me adapto facilmente às pessoas e às mudanças.
lzza – E a Rosarita mãe?
Rosarita – Temos duas filhas. Rogéria que está no terceiro ano de Direito e Claudia a mais nova que prepara-se para fazer medicina. Como mãe, estou sempre ligada e me esforço para não estar constantemente preocupada. Participo da vida das duas intensamente.
Izza – Como você se mantém atualizada?
Rosarita – Eu sou formada em Direito e procuro acompanhar o meu marido em conferências e viagens. Convivemos com juristas e participamos de vários congressos fora.
Izza – Vida social você gosta?
Rosarita – Sempre temos muitos convites e comparecemos com prazer. Gosto de vida social esporadicamente.
lzza – Sendo de fora, o que acha de Curitiba?
Rosarita – Sou do Rio Grande do Sul e quando vim para Curitiba não senti dificuldades de entrosamento porque já tinha familiares aqui. Acho que o curitibano é reservado mas quando fica amigo é super receptivo.
lzza – E as amizades?
Rosarita – Acho as amizades fundamentais; os amigos nos dão alegria nos momentos alegres e apoio nos momentos difíceis.
lzza – Quem você admira?
Rosarita – As pessoas educadas, sensíveis, que se doam em favor do próximo.
Izza – O que você admira ou não nas pessoas?
Rosarita – Admiro a sinceridade e abomino a falsidade.
Izza – Qual seria o teu sonho não realizado?
Rosarita – Não tenho sonhos não realizados.
Izza – Planos existem?
Rosarita – Eu tenho a vida que gosto e o meu plano é continuar vivendo como até agora: participar como tenho participado levando às pessoas o que elas necessitam