Curitiba, 25 de Novembro de 1990
Artista plástica, já expôs no exterior e na Bienal de São Paulo. Verbete no dicionário de Artes Plásticas de Roberto Pontual, no Dicionário de Artes do Ministério· de Educação e Cultura e Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos de Walmyr Ayala, possui obras no Museu Nacional de Belas Artes (RJ), Museu de Arte Contemporânea do Paraná e Museu Municipal de Arte em Curitiba.
Izza – Como foi a tua passagem na coordenação do atelier livre do Museu Guido Viaro?
Suzana – Eu coordenei o atelier livre do Museu Guido Viaro de 1977 a 1987. Este atelier começou comigo, e funcionou durante dez anos, foi um sucesso. Sempre procurei inovar, fazendo com que os alunos tirassem de dentro de si a temática, sua maneira própria de se expressar em vez de impor alguma coisa. Quando comecei foi uma coisa diferente porque na maioria dos ateliers daqui os professores colocavam um objeto e faziam com que o aluno copiasse. Aqui em nosso caso usei outro processo, era uma aula mais individualizada, saía um trabalho diferente do outro. Infelizmente o atelier foi fechado por motivos políticos.
Izza – E o Solar do Barão?
Suzana – Depois que o atelier foi fechado dei aulas no Solar do Barão no atelier livre de desenho e pintura, e após a volta do Jaime Lerner à Prefeitura, fui convidada para dirigir o Museu.
Izza – Como é dirigir um museu?
Suzana – É interessante e diferente porque a gente está do outro lado. Eu sempre via o museu pelo lado artista. Agora já o vejo sob o ponto de vista administrativo também. Os problemas, a falta de verbas, a necessidade de extrema criatividade para poder contornar os problemas, etc. Adoro elaborar programas, distrair visitantes, principal-mente na área arte educação, idealizar projetos para crianças para que o Museu se torne um espaço alegre em vez de bolorento, fechado, escuro onde as pessoas não têm vontade de vir. A nossa meta é criar um ponto de encontro cultural super agradável.
Izza – Conte-nos sobre o sucesso do projeto Maria das Cores.
Suzana – Eu trouxe a artista Olga Romero para que fizesse uma performance. Convidamos as pessoas, pagamos condução para que trouxessem e levassem as crianças. A atriz mostra o Museu e as crianças fazem uma atividade. É muito interessante porque elas se divertem, participam e voltam sempre sabendo alguma coisa sobre o acervo do Museu Guida Viaro e sobre a exposição temporária.
Izza – Você tem conseguido alcançar os teus objetivos?
Suzana – Sim, dentro do possível, porque a Secretária da Cultura, Lucia Camargo, nos dá muito apoio. As limitações existem pela falta de dinheiro. Dentro das idéias temos tido muito sucesso. O contato com as pessoas é sensacional. Elas aderem muito às programações.
Izza – A Suzana pintora, quando começou?
Suzana – Comecei muito cedo. Eu morava no Rio de Janeiro e no Jardim de Infância todas as crianças pintavam, e geralmente faziam Pão de Açúcar e Corcovado. Certo dia, observei que a menina do meu lado fazia uma casinha, resolvi então fazer uma escadaria. Fiz duas retas e duas horizontais e ficou uma coisa estranha. A diretora entrou na sala e achou que aquilo era um pombal. Fui elogiada, paparicada, me acharam criativa e original. De repente, revolucionei também como uniforme, que era um vestido de laço vermelho na gola e avental branco. Eu usava o lacinho para fora aparecendo. A diretoria viu, gostou e pediu para minha mãe que fizesse o laço para todos. Assim começou a minha criatividade.
Izza – E o dom de escrever começou cedo também?
Suzana – Sim. Só que naquela época escrever era até uma desculpa que eu usava para não deitar cedo. Como sou filha única, me deitava e dizia: inspiração, inspiração, então minha mãe pegava um caderno e escrevia o que eu dizia. Assim nasceu em mim a poetisa. Até hoje eu pinto e escrevo, sinto necessidade de pôr no papel o que penso. Inclusive nesta exposição que estou fazendo mostro poesias.
Izza – Como você teve a ideia de mesclar pintura e poesia na exposição?
Suzana – O tema da exposição é “Desdobramentos” e brotou em mim três poesias com o mesmo tema sem intenção nenhuma. Uma amiga viu em cima de minha mesa, gostou e me incentivou. Ela mostrou para a Lúcia Camargo e fizeram para a Feira do Poeta uma tiragem pequena. Essas três poesias estão sendo também distribuídas na exposição que está acontecendo na Galeria de Arte Banestado.
Izza – Esta nova fase surgiu há muito tempo?
Suzana – Há dois anos que estou pesquisando. Comecei a sentir necessidade de textura e de repente surgiu a fase dos tecidos amassados e colados. Antes eu fazia nu e figuras e a primeira tela de transição é um nu já com este tecido. A figura surge no meio das dobras e com o tempo ficou amassado com abstrações. Há alguma coisa que se assemelha a caixas e a armaduras, casulos. É interessante porque cada um descobre alguma coisa, a fantasia complementa.
Izza – Você já expôs no exterior?
Suzana – Já participei de várias exposições fora, sempre coletivas. Já expus na Suíça, nos Estados Unidos. Achei interessante porque não fui junto com as obras mas me mandaram recortes de jornal. É bom saber que outras pessoas viram e principalmente o que eu acho o mais incrível, é quando a gente descobre que quando falamos de uma coisa bem subjetiva, íntima, da gente lá no outro cantinho do mundo, alguém admira por pensar igual ou talvez porque tenha vivido alguma situação parecida. Isso me leva a pensar que o subjetivo é universal.
Izza – Fora as tuas atividades o que você gosta de fazer?
Suzana – Não sobra muito tempo mas eu gosto muito de ler, escrever e estou sempre participando de exposições. A natação, adoro, mas deixei temporariamente. Viajar me fascina. Vou sempre que posso.
Izza – O que você está pretendendo realizar futuramente?
Suzana – A curto prazo estou empolgada com a minha pintura e pretendo continuar porque está sendo uma coisa prazerosa. Estou gostando do que estou fazendo, independente da opinião das pessoas. Para o futuro pretendo viver 15 minutos de sucesso que o Andy Warhol preconizou para todas as pessoas.
Izza – Qual seria a mensagem que você deixaria para os que estão iniciando nas artes?
Suzana – Eu diria que o importante é o trabalho e que não existe uma fórmula ou receita. Existem técnicas que chamamos de técnicas de efeito, inclusive, a pessoa que faz e sempre fica bom. Há coisas que impressionam mas não tem durabilidade e o resultado mesmo para valer tem que ser a longo prazo. O artista tem que se esforçar, os que se sobressaem se dedicam bastante, não se dividem.