Curitiba, 21 de Outubro de 1990
ZEILA BUENO DE BITIENCOURT; bisneta, neta e filha de artistas, convive com a arte desde pequena. Há quatro anos comanda a Uffizi, galeria de destaque em Curitiba. Mãe de cinco filhos, concilia com facilidade seu lado pessoal e profissional. Hoje ela nos conta como começou, o que pensa e o que pretende. Esta é Zeila. Confiram.
lzza – como surgiu a Uffizi?
Zeila – Desde cedo convivi com a arte pois minha mãe pintava muito bem. Desde então eu pensava em abrir uma galeria. mas vieram os filhos e me dediquei a eles. Quando cresceram tive mais disponibilidade e resolvi entrar no ramo e desde 86 estou atuando. Gosto do que faço e faço porque gosto.
Izza – Desde essa época, muitas galerias abriram e fecharam em seguida. Como você conseguiu continuar com esse pique?
Zeila – Oitenta e seis foi o ano do Plano Cruzado. Nove galerias foram abertas e sete fecharam as portas. Me mantive porque sou teimosa e além do mais, abri não para fechar e sim batalhar pelo meu espaço independente do retomo imediato ou não. O mercado das artes é um trabalho que exige paciência. Creio que em quatro anos consegui muito. Entrei com garra, certa de estar per-seguindo o meu ideal e segura de que iria dar certo.
Izza – Qual foi o motivo da escolha do nome Uffizi?
Zeila – Tive muita sorte na escolha do nome e pensei Uffizi porque tem muito a ver com a arte pois é o nome do Museu em Florença que data do século XIII. Senti que ele seria adequado e me traria sucesso.
Izza – O que você acha fundamental para que uma galeria dê certo?
Zeila – Acho importantíssimo o relacionamento do marchand com o artista, não tem sentido nos comunicarmos por carta. Vou lhe dar um exemplo: quando idealizei a exposição dos Doze Mestres, liguei para o Marcelo Grasmann em São Paulo., Ele me disse que seria inútil ir até lá porque não participaria. Decidi e fui mesmo assim e acabei trazendo os quadros que ele gentilmente me deixou escolher. Este fato muito me emocionou. Quando pretendemos conseguir alguma coisa, temos que buscar com a certeza de que dará certo.
Izza – Você acha que aqui em Curitiba é difícil lidar com arte?
Zeila – O que acho é que as coisas caminham mais lentamente, por isso temos que ter persistência. No primeiro ano eu trouxe artistas de São Paulo e Rio, foi quando tive a oportunidade de mostrar trabalhos. A partir deste evento, o nome da galeria marcou .!! as coisas ficaram mas fáceis. Não é um trabalho fácil mas para mim não foi difícil pois tudo o que se faz com amor caminha naturalmente.
Izza – Qual é o critério que você adota na Uffizi para que o artista exponha suas obras em teu espaço?
Zeila – Antes de abrir a galeria fiz contato com pessoas ligadas a Secretaria de Cultura.Uma delas foi o professor Erasmo Pilloto. Ouvi dele uma frase que muito me marcou e que sempre levarei comigo. ”Para a galeria de arte ter sucesso depende da honestidade e sensibilidade do marchand”. Eu abri este espaço com intenção de trabalhar com nomes famosos e também com novos talentos. Lógico que para sabermos que um trabalho é bom, temos que ter conhecimento da arte e muita sensibilidade na escolha das obras.
lzza – Por que no mundo todo, a maioria das galerias são comandadas por mulheres?
Zeila – Realmente, no comércio das artes a presença feminina predomina. Elas são mais sensíveis do que os homens. A nós foi dado o privilégio da paciência e da sensibilidade.
Izza – De onde vem esta ligação tão grande com a arte?
Zeila – A minha bisavó por parte de mãe era pianista da Casa Real da Áustria e o primeiro Teatro de Curitiba teve nome de meu bisavô do lado paterno. Theodoro porque o terreno foi doado para o Estado por meu avô Antonio Correa de Bittencourt. Enfim, veja bem os dois lados da família, sempre existiram artistas. Quem sabe vem daí minha ligação com a arte.
Izza – Nestes quatro anos, o que a galeria te trouxe de bom?
Zeila – No plano pessoal, eu nunca havia trabalhado antes. Aprendi muito neste período pois tive oportunidade de contactar com o ser humano. A mulher que atua somente em casa é muito protegida, guardada do mundo do que acontece aqui fora. Eu amadureci, cresci, aprendi a valorizar mais a vida e a conhecer o ser humano. Encontrei o que eu queria.
Izza – E profissionalmente o que mais te marcou?
Zeila – A exposição dos Doze Mestres que realizei na Uffizi, foi escolhida a exposição do ano pelo Diário Popular. Foi um sucesso porque consegui reunir nomes numa só exposição do ano pelo Diário Popular. Foi um sucesso porque consegui reunir grandes nomes numa só exposição comemorando um ano de atividade. Foi super importante como evento histórico em Curitiba. Nela tive a oportunidade de mostrar minha capacidade de fazer um trabalho sério e bom. Participaram Aldemir Martins, Darcy Penteado, Eduardo Iglesias, Domício Pedroso, Helena Níkitima, Erick, Luciana Teruz, Marcelo Grosmann, Marysia Portunari, Octávio Araújo, Poty Lazarotto e Rogério Temz.
Izza – Qual seria a paixão de tua vida?
Zeila – Em primeiro lugar os meus cinco filhos depois a arte. Esta função cósmica a me pertencer. Os filhos eu sempre quis ter, e quando abri a galeria senti como se as coisas fossem colocadas em minha vida para que dessem certo. Tenho uma fé muito grande me Deus e acredito que ele sempre está comigo.
Izza – E os planos para o futuro, dá para contar?
Zeila – Futuramente sonho em ter uma galeria em Nova York, para divulgar a arte brasileira. Quando estive lá no ano passado pesquisei e vi que eles adoram a nossa arte. A paisagem deles não é como a nossa e eles admiram este pais tropical. Estou esperando a hora certa. O meu pique de trabalho é acelerado e tenho pressa de realizar o que pretendo.
Izza – Para finalizarmos, qual é a sua filosofia de vida?
Zeila – Paz e amor. Se você se ama tem condições de amar as pessoas e de viver em paz. Cristo nos deixou este preceito: ” Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Baseada nisso eu vivi muito bem. Na vida temos que nos dar chances. O ser humano é inseguro por natureza, mas se você deixar que o medo tome conta e atrapalhe os teus caminhos, jamais chegará a lugar nenhum. Você tem que acreditar em você mesma.