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“O importante é acreditar” declara Cristina Bembnowski

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Curitiba, 31 de março de 1990

 

CRISTINA BEMBNOWSKI; jovem executiva, futura administradora de empresas, há dois anos começou o seu próprio negócio, a “SINEGISTS”, no Shopping Hauer, onde representa com exclusividade a Griffe Victor Hugo. Atuante, dinâmica, adora pôr em prática novas idéias. Esta é Cristina, filha de Susi e Bogdan Bembnowski.

 

lzza – Em que ramo você está atuando?

Cristina – Em tenho uma loja da Griffe Victor Hugo de produtos de couro e também artigos sintéticos. Represento a griffe aqui em Curitiba, no Shopping Hauer. A Sinegists sempre vende muito bem, pois são artigos muito bem feitos, com muito requinte. Tenho esta loja há dois anos. Você nem imagina como tive a ideia de começá-la.

lzza – Conte-nos como foi …

Cristina – Quando passei no vestibular de Administração de Empresas, ia ganhar um carro de presente, mas preferi dinheiro para investir e ter a minha própria renda. Comecei a pensar nisso e, por coincidência passei no Shopping Hauer e havia uma loja à venda. Me empolguei e depois de dois meses, comprei e comecei o negócio em sociedade com o meu irmão, mas antes de resolver a vender produtos Victor Hugo, fui para São Paulo fazer algumas pesquisas de mercado por três vezes. A princípio, pensei em produtos dietéticos, mas depois preferi a griffe. Confesso que no começo estava um pouco receosa, porque jamais havia trabalhado no comércio. Para conseguir esta griffe, muitos requisitos tiveram que ser preenchidos e, por enquanto, tenho a exclusividade. Reconheço que tive muito apoio do meu irmão, que começou comigo, e de minha família que sempre me incentivou. Agora estou sozinha, tenho um contador que resolve a parte de contabilidade, e o dia-a-dia eu resolvo: funcionários, pedidos e devoluções, etc. Quem sabe no futuro, abro outras lojas.

Izza – Como vão seus negócios agora nesta fase?

Cristina – Eu acho que agora todos têm que cooperar um pouco para que a mudança não seja muito sofrida. O que fazer hoje com esse plano? Procurar todos os recursos de marketing, melhores preços, maiores alternativas para os clientes, ter novas modelagens do produto, mais opções, enfim, tornar mais conhecida a nossa mercadoria através de mala direta e telefonemas para as clientes. As condições de pagamento também tem que ser melhoradas, para facilitar a compra. O difícil foi adaptar-se às bruscas mudanças mas, realmente, a situação não poderia continuar como estava. Com aquela inflação de 90% as tabelas que eram trocadas quinzenalmente, passaram a ser alteradas tão frequentemente que, começamos a pagar o produto somente à vista. Creio que agora tudo vai ficar melhor. Temos que aceitar e entender no momento, que as vendas caíram para todos e, além disso praticamente a produção parou. Todos estão esperando a estabilização dos preços. Os fabricantes também dependem de inúmeras condições e, também de terceiros, fechaduras, fios, matéria-prima em geral, etc. Às vezes, o produto demora até chegar ao lojista por causa disso, de inúmeros fatores. Até eles ajustarem a situação, temos que ser com¬preensivos.

lzza – O que você considera essencial para ter sucesso no comércio?

Cristina – O relacionamento com as freguesas, formar a clientela, é o mais importante. Não é aquele conhecimento rápido, onde a pessoa compra e vai embora e não volta e, sim, manter o mesmo círculo; o cliente tem que voltar e comprar o produto novamente. É uma escola onde a gente aprende muito, participo bastante e já tive a oportunidade de aprender muito; sei que, para que possamos ensinar, é essencial que saibamos fazer bem feito.

lzza – Como você encara esta redução de preços nas mercadorias?

Cristina – Veja bem, antes da prática desse novo plano, eu paguei à vista a mercadoria, pois sou apenas representante. O fabricante, Victor Hugo, pode reduzir os preços porque ele tem o preço de custo, mas para mim é difícil porque já paguei adiantado. Acho que o comerciante, hoje em dia, vai ter as suas perdas e se tiver lucro, vai ser pouco. Penso que todos têm que cooperar para que tudo dê certo, senão o dinheiro vai virar pó. Se houver inflação, o dinheiro desaparece. Os comerciantes, empresários e microempresários têm que colaborar porque o dinheiro deles vai permanecer, o do assalariado não. Enfim, pelo menos, temos a esperança de dias melhores.

lzza – Sendo uma griffe de nome, os produtos são muito caros?

Cristina – Eu, por direito, poderia colocar uma margem de lucro bem maior do que Rio e São Paulo, pela distância, despesa de frete, etc. mas a minha loja não é mais cara do que as outras. Sei de muita gente que viaja pensando que vai encontrar esta mercadoria mais barata, mas não pensa nos gastos adicionais. Eu obedeço normas porque apenas represento esta griffe. Ele está há vinte ou trinta anos no mercado e é coqueluche no Rio e em São Paulo.

lzza – E a concorrência?

Cristina – Sei que a griffe Victor Hugo oferece qualidade. Quem gosta de artigos bem feitos, perfeitos e duráveis, prefere pagar um pouco mais por um artigo que permaneça e vista sempre bem. Tenho vendido muito bem também os artigos sintéticos. O acabamento é perfeito, artesanal. Muitas vezes eu tentei colocar na loja produtos mais acessíveis e, por incrível que pareça, isso acelerou mais as vendas da griffe, porque houve a oportunidade de comparação.

lzza – O que você aprecia fazer nas horas de folga?

Cristina – Adoro fazer doces dietéticos e acho que levo jeito, porque tudo o que faço aqui em casa, logo acaba. Até cheguei a ganhar alguns concursos. Ganhei terceiro lugar entre concorrentes de todo o Brasil. Pensei várias vezes em abrir uma confeitaria. O sapateado também faz parte de minha vida. Gosto muito de dançar, e pratico sapateado na Extratus. Confesso que sou preguiçosa para esportes, mas sou persistente. Quando eu quero realmente uma coisa, vou em frente, persisto e me dedico, por isso, tudo acaba dando certo. Veja, esta pequena independência que tenho hoje, valeu. Trabalhei, me dediquei e estou feliz, porque vendo que há retorno quando há dedicação. O importante é acreditar e alcançar.

lzza – E a faculdade?

Cristina – Faço Administração de Empresas na Faculdade Tuiuti. Acho ótimo porque já estou no quinto período, alio a prática com teoria e essa é a melhor experiência. Tudo o que aprendi até agora me serve muito na parte administrativa e as mudanças governamentais, cruzado, congelamento, alta inflação, recessão, me deram uma prática razoável. Ainda pretendo fazer o curso de Engenharia de Alimentos na Faculdade Católica. Quem sabe …

lzza – O que você pretende realizar agora?

Cristina – Este ano vou ter estágio da Faculdade. Eu pretendo melhorar o estilo da loja, inventar alguma coisa diferente, que movimente mais negócios; talvez produtos mais acessíveis, fazer uma nova pesquisa de mercado com mercadoria mais barata. Claro que continuo com o Victor Hugo, mas gostaria de diversificar um pouco, oferecer mais opções para o cliente. Com esse plano econômico, temos que avaliar. O que sei é que nunca vou parar de trabalhar. Inclusive, nos finais de semana fico um pouco agitada, me dá um vazio e espero a segunda-feira para começar a me movimentar. Não depender de ninguém é maravilhoso. Meu pai sempre nos dizia que o mais importante era ter uma Faculdade, ter um curso superior para termos mais base numa emergência, para estarmos mais preparados para a vida. Ele nos mostrou todos os caminhos, o lado bom e o ruim da vida, para que pudéssemos fazer uma opção. Temos que trabalhar para valorizarmos mais o dinheiro, e, depois, quanto mais a pessoa faz mais tempo ela tem para fazer novas coisas. Mesmo com altos e baixos vale a pena, porque investi muito no que gosto. Faço as vitrines, cuido pessoalmente de tudo e isso faz com que criemos amor pelas coisas. Eu gosto desta parte e da financeira, controlar fluxo de caixa. A minha perspectiva para o futuro é produzir, porque quem confecciona pode controlar melhor os preços, aumentando a margem de lucro. Futuramente talvez seja bom, criar e produzir a mercadoria com a griffe própria.

Izza – Qual a preferência das curitibanas no tocante a acessórios?

Cristina – Excelente! Elas sempre gostam do que tem mais qualidade, consequentemente, do que é mais caro. Muitas gostam e pagam a mercadoria porque conhecem e estão acostumadas a usar aquele determinado produto. Quanto às cores, principalmente em artigos de couro, elas preferem o preto e marrom. São as cores que tem mais saída, pela praticidade, além do mais as bolsas coloridas exigem o sapato da mesma cor, o que as vezes é difícil de encontrar. Curitiba agora está mais independente, não precisamos viajar para Rio e São Paulo para encontrarmos as coisas bonitas, porque aqui já tem tudo e em quantidade.

lzza – O que você diria àqueles que pretendem iniciar um negócio próprio?

Cristina- O futuro do Brasil está espelhado nos jovens. Temos um presidente novo, jovem também, e esta nova geração tem que ter criatividade para começar a produzir, traçar objetivos e persegui-los, acreditando no sucesso. Este tipo de coisa leva os jovens a satisfazerem suas aspirações pessoais, profissionais e financeiras. O importante é dar o primeiro passo, acreditar e encarar todas as dificuldades que surgirem e encarar essa instabilidade governamental, não como uma frustração para os próximos empreendimentos, mas como uma grande experiência para o futuro. 

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