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“Artes e agricultura” fala Maria Christina de Andrade Vieira

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Curitiba, 3 de fevereiro de 1990

 

MARIA CHRISTINA DE ANDRADE VEIRA: Mulher atual, de forte personalidade, desempenha com êxito sua função de diretora executiva de projetos da Associação Cultural do Banco Bamerindus. Participa com destaque da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais do Paraná como coordenadora do Comitê de Agricultura. Nesta conversa Maria Christina nos conta como consegue executar com competência suas atividades.

 

Izza – Quais são· suas atividades atualmente?

Maria Christina – Trabalho no Banco Bamerindus, sou diretora de projetos da Associação Cultural e participo também da Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais do Paraná, na Comissão de Agricultura.

lzza – Quando foi criada essa associação cultural?

Maria Christina – Anteriormente, já existia um trabalho cultural, porém, não especificado (funcionava dentro da Umuarama). Agora, foi criada esta Associação dentro do Banco, um departamento específico e bem definido.

lzza – Qual seria o objetivo da Associação?

Maria Christina – Viabilizar projetos culturais que aliem o interesse da comunidade onde o Banco atua aos interesses do próprio Banco. A imagem de vínculo com a comunidade é uma imagem simpática, funciona bem para ambos os lados. Temos tido muitos projetos nossos e também de fora, que são coordenados por mim. Trabalho também com marketing cultural e, por isso, viajo constantemente para São Paulo  que centraliza mais este tema. É uma atividade nova, não só no Banco como a nível de empresas locais. Todos os projetos da Lei Sarney passam por minhas mãos.

lzza – O que você acha sobre o crescimento dos movimentos culturais no Paraná?

Maria Christina – Acho que os movimentos culturais têm crescido, não só no Paraná; isso é uma questão de evolução do próprio país, pois há uma exigência do público que vai ficando cada vez mais seletivo e do próprio mercado que impõe um maior desenvolvimento cultural. Com todos esses eventos culturais, a platéia vai ficando cada vez mais crítica e mais selecionada, não somente no sentido de classe social, mas também no maior conhecimento das várias formas artísticas.

lzza – Em sua atividade, como você faz para manter-se atualizada?

Maria Christina – Vou muito ao teatro e, principalmente, ao cinema. Inclusive, acho que precisamos parar para pensarmos no cinema nacional, que tem coisas fantásticas. Tenho assistido coisas muito boas em artes, dança, música, pintura; em todas estas áreas a evolução é visível.

lzza – Conte-nos sobre o projeto “Nossa Terra” e sobre o livro “Foz do Iguaçu” ?

Maria Christina – “Nossa Terra” é o nome do projeto, Foi lançado aqui em Curitiba, em Foz do Iguaçu e em São Paulo. Inclusive, saiu na Revista Cláudia deste mês e teve uma repercussão muito boa. Este projeto vai ter três livros (a princípio), um a cada ano. Eu nunca tinha feito um livro e confesso que é gratificante, porque acompanhei e coordenei o seu desenvolvimento passo-a-passo. Valeu a pena porque alcançamos o nosso objetivo: o livro tem um lugar determinado e um público direcionado.

Izza – Com que finalidade este livro foi editado?

Maria Christina- Para presentearmos clientes especiais do Banco; também para contatos com o exterior, países estrangeiros, ele saiu editado também em espanhol, Inglês e japonês.

lzza – Convivendo com as artes você sente-se inclinada por alguma delas?

Maria Christina – Sou muito ligada a estética e tenho sensibilidade. Não pinto e também não tenho jeito para desenho. Acho que o que me atrai mais é a crítica (de cinema, literatura, etc.).

lzza – Quantos projetos foram realizados no ano passado?

Maria Christina – Fizemos um balanço de 30 de abril até 30 de dezembro e, neste período, foram feitos 110  projetos. Os projetos vão desde restauração de imóveis tombados pelo Patrimônio Histórico até brindes. Na área de música, concertos, shows de música popular, concertos a nível de público, como este que acontecerá em Caiobá cm fevereiro. Ballet, teatro,  as melhores peças de São Paulo têm o nosso patrocínio como Elas por Elas com Marília Pera, lrma Vap com Ney Latorraca e Marco Nanini que correu o Brasil sob o nosso patrocínio e agora está no Rio de Janeiro. Tivemos dois filmes curta metragem, dois livros, Festival Internacional de Teatro realizado em Londrina (que teve uma repercussão fantástica) e vários festivais de música, teatro, cinema. Veja bem! Isso em termos não só de Paraná e sim de todo o Brasil.

lzza – Qual é o seu papel no comitê de agricultura da Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais do Paraná?

Maria Christina – Sou coordenadora e membro do Conselho da Associação, cujo objetivo é aprimorar o desenvolvimento profissional da mulher que atua. No Comitê de Agricultura, o primeiro passo no ano de 89 foi fazer um levantamento de quantas mulheres estão envolvidas com agricultura ou com a área rural; verificamos que o número é bastante grande – até surpreendente – tanto aqui como em Londrina, onde, no dia da instalação, tivemos a presença de 45 mulheres, 17 delas fazendeiras. Existem dois níveis e estamos falando aqui da proprietária. O outro nível seria das trabalhadoras “boias-frias”, das que trabalham até sem vínculo empregatício. Neste setor nós ainda não conseguimos chegar a fazer um levantamento exato e esse dado estatístico ainda não existe.

lzza – O que teria que ser feito, a nível de Curitiba?

Maria Christina – Seria aprimorar a mão-de-obra através de cursos, debates, conferências, visitas a fazendas, empresas rurais, etc., para que a gente possa participar da evolução do trabalho desta mulher. Além disso, uma outra coisa que se considerou muito importante ali – isso a nível de experiência que tivemos – foi ver o quanto essas mulheres eram de certa forma discriminadas por atuarem num área árida, onde encontraram vários tipos de preconceito. A integração dessas mulheres como uma classe profissional com objetivos em comum, para elas, foi muito importante. Ficaram muito satisfeitas por terem agora um lugar onde falar de seus problemas. Isso nos impulsiona cada vez mais a fazermos palestras e continuarmos com esse propósito. Por isso, a Associação foi uma iniciativa fantástica!

Izza – Qual foi o resultado do curso sobre Administração Rural?

Maria Christina – Foi na Fazenda modelo Mitacoré. As aulas teóricas foram aqui. 49 pessoas visitaram a Fazenda e aqui compareceram quase 80. Muitos casais e empresários participaram com interesse. Agora, fui convidada a fazer um curso em Londrina, durante a feira em Londrina que é considerada a 2ª feira do Brasil. Em primeiro lugar está o Rio Grande do Sul, em Esteio. Este convite mostrou o quanto repercutiu bem o nosso curso na fazenda e, o fato de termos uma porta aberta para fazermos um curso, é sensacional! O convite partiu do Brasílio de Araújo que é o presidente da Sociedade Rural de Londrina.

Izza – Como você distribui o tempo para dedicar-se à parte profissional e aos filhos?

Maria Christina – Além de ter uma intensa atividade local, viajo pelo menos, de quinze em quinze dias. Quando acontece um evento fora, vou até o local, organizo, estruturo e depois compareço somente na estréia. Sou taurina e muito organizada. Sempre, em primeiro lugar, estão meus filhos. Quando eles estão em casa não atendo o telefone em hipótese alguma; alguém atende e só falo com a pessoa se for sobre um assunto de extrema importância, senão, ligo depois. Quando estou em casa, realmente estou em casa. Consigo conciliar tudo e distribuo a minha programação harmonicamente.

Izza – Como seus filhos encaram sua atividade profissional?

Maria Christina – Meu filho mais velho, o Antonio Carlos, tem 18 anos. Mariella tem 16 e o Leonardo tem 7 e é o que mais exige a minha presença física, por ser pequeno ainda. Claro que os outros exigem também, mas é uma disponibilidade de tempo diferente, Para o adolescente é mais importante o diálogo. Quanto à mãe trabalhar, acho que tudo o que se faz na vida, exige um custo. A mulher que trabalha tem vantagens e desvantagens. As crianças ficam mais independentes e seguras se o processo for bem esquematizado. Por um lado, pode haver a carência e, de outro, eles têm uma mãe que transmite bons conceitos. Acho que a energia positiva é bastante grande! Trabalhar, para mim, é primordial e essencial para meu equilíbrio interior; mantendo este equilíbrio posso dedicar-me a eles (eu até escrevi um artigo na Gazeta do Povo sobre adolescentes).

Izza – O que você acha sobre o papel da mulher atual?

Maria Christina – Acho que quando ela predispõe-se a fazer alguma coisa, parte com uma “garra” muito grande. Outro dia, li um artigo muito interessante onde se dizia que o homem ainda não está preparado para a nova mulher. Acho que este é o ponto central da questão de como o homem se relaciona com a nova mulher que não depende dele; uma vez que ele foi culturalmente preparado para ser o dono do poder – e o poder também é o dinheiro. Quantas vezes eu ouvi de outras mulheres: “Se eu tivesse independência econômica eu teria me separado”; é triste! E depois, ainda existe aquele drama de, com mais idade, a mulher sente-se mais tolhida para trabalhar; para as mais velhas, o desafio é bem maior!

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