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“O céu é o limite” revela Janice da Penha Augusto Rost

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Curitiba, 14 de outubro de 1989

 

JANICE AUGUSTO; figura expressiva da sociedade do sudoeste do Paraná e de destaque também em nosso meio. Nasceu na cidade catarinense de Canoinhas, mas morou muitos anos em Pato Branco, onde hoje reside novamente.

A elegância e o charme fazem parte de seu estilo, no bom caimento das roupas que veste. É jornalista, responsável por dois semanários e uma revista; mas é no ramo de Decoração de Interiores que vem destacando-se nos últimos 7 anos. Cursou História da Arte e Decoração. Mãe de um casal de filhos, Pedro Augusto com 6 anos e Maria Augusta com 4 anos, conta com o apoio e compreensão de seu marido, o administrador de empresas Pedro Alberto Rost. Como todo bom nativo do signo de peixes, é certo que Janice passou muito tempo acumulando energias para que, uma vez dirigindo-se para o caminho certo, seus objetivos fossem alcançados com rapidez e segurança. O presente e os lucros são mera conseqüência de seu trabalho, como convém à trajetória de uma mulher bem sucedida.

 

lzza – Mãe, esposa, jornalista e decoradora. Como são seus dias acumulando estas funções?

Janice – Vivemos atualmente numa cidade com cerca de 120.000 habitantes o que torna as coisas mais fáceis, na fase de vida em que me encontro. Com dois filhos pequenos, que necessitam ainda de minha atenção especial em função da pouca idade, distribuo minhas tarefas de forma a atender tudo (dentro de uma agenda doméstica e de trabalho bem movimentada), sem esquecer as horas que dedico a minha leitura e pesquisas e aos compromissos sociais junto ao meu marido e minha família que, como sempre, são grandes responsáveis por tudo de bom que hoje acontece em minha vida! Os conceitos de família, responsabilidade, pátria, tradição, honestidade, são latentes em mim pois constitui-se na base da formação que me foi dada e fazem com que eu mantenha o devido equilíbrio para procurar sempre analisar a fundo qualquer situação e depois sim, emitir conceitos.

lzza – Você é jornalista (colega de faculdade (PUC/Paraná). Como decidiu-se pela decoração?

Janice – Desde menina, sempre gostei de decorar nos trabalhos escolares, nas festinhas de adolescentes, nos bailes que existiam na cidade, nos aniversários de crianças de amigos e vizinhos sempre eu era chamada para dar idéias e realizar trabalhos. Antes mesmo de ingressar na Universidade Católica, fiz teste para o Curso de Decoração da Escola Técnica Federal de Curitiba (CEFET) e fui aprovada. Nesta época, decorar, para mim, era um “hobby”. Foi após concluir a Faculdade de Jornalismo que voltei a estudar Decoração. Morando no Rio de Janeiro, fiz curso de Decoração Ambiental e Paisagismo, na Escola Superior de Decorações; Decoração de Interiores, no Instituto Internacional de Cultura e na Escola de Artes Vi-suais do Parque Lage. Mudando para Brasília, cursei História da Arte, Decoração de Interiores e História do Mobiliário. Em 1983, voltando a residir em Pato Branco, iniciei meus trabalhos nesta área depois de estudar e pesquisar bastante. Neste mesmo ano, promovi a primeira exposição de quadros na cidade – um “vernissage” de grande sucesso – onde foram vendidas todas as 28 telas expostas (individual de Fernando Ikoma).

Izza – Para você, o que é mais importante em decoração?

Janice – O mais importante é gastar bem o dinheiro que se investe num projeto. A era dos cenários arrumadinhos acabou e, hoje, as pessoas preocupam-se muito mais com o conforto e com o aconchego de seus espaços do que com modismos passageiros, tendendo muito mais para o clássico. As casas, atualmente, são feitas para os 365 dias do ano. A arquitetura do interior é de primordial importância!. Um móvel de mau gosto não interfere numa bela arquitetura, assim como a peça mais linda do mundo não melhora uma arquitetura de qualidade duvidosa. Foram as mudanças sócio-econômicas ocorridas nos últimos anos em nosso pais que levaram as pessoas, a voltarem- se mais para dentro de suas próprias casas e assim melhorar e adaptar os seus espaços às novas necessidades. Em decoração não existe uma regra fixa. O todo é que deve se harmonizar. Pode-se mesclar tecidos, estilos, móveis e adornos.

lzza – A grande maioria de arquitetos e decoradores não hesita em se colocar claramente a favor de uma linha bá¬sica. E você?

Janice – A suprema liberdade de viver bem, implica em criar um ambiente especial para se morar. Penso que, decorar, é criar um ambiente especial para se morar. Penso que, decorar, é criar um ambiente dê conforto e beleza para tornar a vida mais agradável. Despojar os ambientes do supérfluo, substituir a quantidade pela qualidade, projetar pensando no presente e no futuro, sem esquecer, porém, que as raízes foram transmitidas num passado muito próximo. O céu é o limite quando a criatividade está em jogo. Em resumo, não perder de vista a afirmação de Le Corbusier, de que “uma cadeira só está pronta quando alguém está sentado nela”.

Izza – “Clean” passou a ser a palavra-chave nos diversos segmentos da decoração; alguns, acham uma maneira “pobre” de decorar, enquanto outros aprovam totalmente. Você faz parte deste último grupo?

Janice – Os espaços devem ser desimpedidos para facilitar a circulação das pessoas; elas precisam andar, dançar até, se quiserem! Esta ideia de que o “clean” é sinônimo de pobreza não tem sentido; o clean é “chie”, despojado, sem preconceitos, novamente menos quantidade, mais qualidade. Seleciona-se as coisas, os objetos e as pessoas. Os objetos de uso pessoal se transformam, muitas vezes, em peças de decoração e têm, a partir de agora, uma função gráfica. O que importa é o clima do ambiente, a atmosfera que faz o todo, uma mistura de épocas reeditada em cores e adaptações de agora. A liberdade de misturar materiais, textura e formas ou de tirá-las de seu contexto pré-estabelecido foi aceita, inicialmente, em lojas, escritórios e estabelecimentos comerciais que queriam renovar seu visual criando um novo repertório bem-humorado, limpo, colorido, sedutor, passando ao consumidor uma imagem mais “up-to-date”.

Izza – O que você pensa sobre sua pessoa e sobre o seu mo-mento profissional?

Janice – Sou uma pessoa simples, gosto da vida, de pessoas, de flores e ainda tenho muito que aprender. Gosto de pessoas simples, autênticas e sinceras; admiro a lealdade. Não sou uma mulher que exige além do que pode ter; ser mãe, esposa, dona de casa, trabalhar fora, educar os filhos, estar disposta, alegre e contente o tempo todo não é fácil. Para que se tenha sucesso, a batalha é grande e a luta é constante, pois o viver hoje é muito competitivo. Minha atual fase profissional reflete um ponto de maturidade crucial. Acredite, uma pessoa franca, sincera e objetiva. Detesto trambiques e tergiversações! Se todas as pessoas tivessem consciência da beleza universal que cada uma delas carrega em seu âmago, como uma dádiva divina, o mundo certamente seria melhor.

lzza – Fale de alguma coisa que lhe preocupa:

Janice – Sou muito emotiva e uma coisa me preocupa e emociona é criança abandonada, é a infância nas ruas, deparar com pequeninos dormindo nas calcadas’ É difícil combater pais irresponsáveis, que colocam filhos no mundo, tirando suas chances antes mesmo que eles comecem a viver! Nós temos hoje, cerca de 30 milhões de crianças abandonadas!.

lzza – E a educação dos filhos?

Janice – Nos baseamos sempre na verdade, na responsabilidade. Procuramos passar para eles a importância do valor pessoal de cada um e despertar-lhes a consciência do que podem ser capazes de vir a realizar. Conceitos de religião, os agradecimentos a Deus, o respeito ao próximo, as normas de educação e o cultivo de amizades, isto tudo adaptado à realidade deles, que hoje estão iniciando a fase de alfabetização.

lzza – Que tipo de presente você daria para o futuro?

Janice – Esta é uma pergunta difícil de ser respondida … A luta desenfreada pela sobrevivência, muitas vezes, obriga o ser humano a tomar atitudes totalmente antiéticas. Diante do quadro político, econômico e social que aí está, não posso ter muito otimismo! Acredito que, o melhor presente para o futuro de todos nós, se resume em duas palavras: “SAÚDE” E “PAZ”. Tudo o mais será conseqüência.

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