Curitiba, 21 de Julho de 2018
Querida e linda Capital das Araucárias
Olá minha amiga, como está você?
Que dia lindo hoje. Sol e arzinho gelado do jeito que você gosta.
Faz um tempo que não colocamos o papo em dia e esta noite sonhei com você.
Nós duas estávamos na Torre da Telepar. Lá pelas quatro da tarde, céu limpinho. Que vista maravilhosa! Uma volta completa de beleza, um amplo horizonte de nítida prosperidade.
Ruas arborizadas, avenidas e vias expressas facilitavam o alcance de bairros mais distantes. Bairros que com autonomia que garantem o bem-estar de suas comunidades. Comentamos sobre as dificuldades de se manter espaços de convivência saudável e respeitosa entre cada bairro, cada região, na velocidade do desenvolvimento dos dias de hoje.
Chamou nossa atenção como ainda temos verde. Nos Tropeiros, Jardim Botânico, Bacacheri, São Lourenço, Tanguá. Da torre notamos o capricho dessas ilhas verdes abraçadas por edifícios e residências.
Enquanto olhávamos ao redor apontei para você o Bom Retiro. Bairro arborizado com poucos prédios e a minha casa ao lado do Hospital Pilar. Lá minha infância foi plena de família, vizinhos e amigos alemães e italianos. Infância saudável e segura. Tinha balanço em galho de chorão, horta, arvoredo de limão rosa, mimosa, jabuticaba, pitanga e até pé de café. Além, claro, de gato, cachorro, papagaio e canarinhos.
Conhecendo a Dona Lenir e o Senhor Juarez, você acompanhou o cuidado dos meus pais para comigo e minha irmã.
Estudei no Colégio da Divina Providência, na Rua do Rosário no 44, no coração da cidade. A Catedral na Praça Tiradentes, comércio dinâmico com as Casas Pernambucanas, Bazar Tiradentes, Relojoaria Progresso, o Demeterco, a Minerva, e a parada obrigatória na Casa do Queijo. Subindo a rua do colégio a vista era linda. As torres das igrejas Presbiteriana, da Ordem e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de São Benedito, a Igreja do Rosário. Lá fiz minha primeira Eucaristia.
Hoje o Largo da Ordem mescla religiosidade com a alegria e o burburinho da feira de artesanato dos domingos ao redor das flores que contam o tempo do passeio.
Como os dias eram longos naquela época. Complementava meus estudos com aulas de piano na escola de música Carlos Gomes e de francês na Aliança Francesa. Para relaxar saía da Aliança, atravessava a Comendador Araújo e ia nadar na Thalia. Alguns anos depois iniciei o Interamericano pois, segundo meu pai, estudar inglês era imperativo para meu futuro. Privilégios de se viver em uma cidade com ar de pacata, mas no compasso do progresso.
Haviam muitas opções de lazer para a família. Peças e concertos no teatro, Jerry Lewis no Vitória, Tubarão no Condor, ver as cobras no Passeio Público, tomar sorvete no Gaúcho, domingos em Santa Felicidade, boas risadas no circo.
Mas, voltando para o Bom Retiro, você se lembra das noites de Natal em minha casa? Minha mãe se esmerava enfeitando o pinheirinho e Sr. Juarez caprichava nas luzes do jardim. Família toda reunida e a certa hora tocava a campainha. Lá estava o Papai Noel! Inesquecível. Ele, Lafayette Queirolo, me entregou uma caixinha de presente com a chave do meu Essenfelder. No ano seguinte foram inúmeras escalas e sonatas para o recital de piano no teatro da Reitoria.
Os anos se passaram, fiz o preparatório para o vestibular na Rua das Flores bem na Praça Osório. E passei!
Iniciei a faculdade e vivi marcantes anos da minha vida bem ali no Hospital Evangélico de Curitiba. Corpo docente extraordinário, mais de 500 leitos com livre acesso aos acadêmicos. Foi jogar o sapo n’água! E você, minha querida cidade, junto comigo recebendo os colegas que vieram adquirir conhecimento pelas bandas das araucárias. Ao final de 6 anos, emoção nos olhos dos meus pais quando recebi o grau de Médica das mãos do Dr. Daniel Egg. Lá se vão 35 anos. Estudando, aprendendo, ensinando.
Olha que pôr de sol lindo. O lago do Barigui está emoldurado pelo bosque de araucárias.
Mas, claro, que nem tudo são amarelas de ipês ou rosas de cerejeiras. Imagino que para você acompanhar projetos de equipes conscientes e competentes para transformá-la em cidade ímpar e moderna, comparada mundo a fora, com significativos e prestigiados títulos de Cidade Sorriso, Cidade Modelo, República de Curitiba, Capital Ecológica do país, isto tenha um preço. Mas ao mesmo tempo percebe-se um esforço e um grande amor por parte de teus cidadãos curitibanos, legítimos e de coração, para atenuar as desigualdades e seguir em direção do progresso.
E esse verde e esse sorriso são os mesmos que sustentam posições com veemência, suportam teu povo num contundente modo de pensar e agir, de demonstrar comportamentos já bem reconhecidos e admirados. Veja só. Teus cidadãos manifestando suas opiniões civilizadamente sem colocar o pezinho na grama? Só mesmo em uma cidade diferente e notável, que ensina a comunhão e o respeito pelo outro.
Minha querida Curitiba. Sou grata a você por ter me abrigado e presenteado com tantas oportunidades. Foi aqui que nasci, me criei, casei e formei família, criei meus filhos. Aqui exerço minha amada profissão e sigo na carreira acadêmica com jovens médicos no Hospital de Clínicas.
Desenvolver um projeto de vida longa e saudável requer amor, bons exemplos e boa formação, energia, perseverança, determinação e, com certeza, o lugar onde se vive faz toda a diferença.
Curitiba, você não sossega. Está no topo das cidades mais inteligentes e conectadas do Brasil. Parabéns!
Enfim, passei o dia com você na minha cabeça.
O fim do ano está chegando e trazendo surpresas. Até lá que tal aproveitarmos o feriado e tomarmos um café no MON?
Autora:
Rita de Cássia Guimarães
Otorrinolaringologia
Otoneurologia
Universidade Federal Paraná